Ressurreição

Não há nada mais consolador do que saber que o nosso corpo ressurgirá, que a morte e a consequente separação das pessoas queridas não é a última palavra.

O desejo original

O homem é humus, vem da terra e para ela volta. É mortal e está consciente de que o é: isto torna-o humano.

Contudo, volta à terra como uma semente caída da planta, regressa ao lugar de onde veio como promessa de vida.

A ressurreição não é simples reanimação de um cadáver que volta a viver, mortal como antes. É, pelo contrário, aquela plenitude de felicidade e de vida – não há felicidade sem vida – a que sempre aspiramos.

É a realização do nosso desejo original: tornarmo-nos como Deus (cf. Gn 3, 5). Um desejo purificado, ordenado e realizado pelo próprio Deus em Cristo.Toda a cultura é uma espécie de máquina feita para derrubar os limites. O homem sente dentro de si a ânsia de libertar-se do último limite para gozar de uma existência livre da hipoteca da morte.

O início da ressurreição universal

A ressurreição, centro da fé cristã, refere-se precisamente ao corpo e funda-se na esperança de Jesus ressuscitado. A sua e a nossa ressurreição relacionam-se de tal modo que uma não é verdadeira sem a outra.

De facto, a ressurreição de Jesus é para nós; é o início da ressurreição universal dos mortos.

A história toda é vista como um parto que gera a nova criatura. E a própria criação espera com impaciência, «geme e sofre nas dores de parto», esperando vir à luz da glória dos filhos de Deus, à redenção do corpo (cf. Rm 8,19-24).

Por isso, não nos interessa a teoria da reincarnação que nega a ressurreição do corpo enquanto o considera um peso de que é necessário libertar-nos.

A manhã de Páscoa

Na manhã de Páscoa veio à luz a cabeça, Cristo. Vem a seguir o corpo, que somos nós. Ele foi o primeiro que começou a viver uma vida que vai para além da morte; é o primogénito daqueles que ressuscitam dos mortos.

A ressurreição é a beleza de Deus participada ao homem e, nele, a toda a criação: são os novos céus e a nova terra contemplados por Isaías (65, 17), onde tudo tem o espanto de uma manhã perene que não conhece ocaso, de uma alegria nascente e perene.

Finalmente o homem inquieto – que não encontra «nada de novo debaixo do Sol», como diz Qohélet, o Eclesiastes (1, 9) – descobre a novidade inaudita que há tempos vem procurando.

É uma «visão» que supera a nossa imaginação, mas é também o sonho secreto do nosso coração.

Aqui e agora

Mas a eternidade, a vida nova e definitiva já entrou, com a morte e ressurreição de Jesus, na minha esperança.

É por mim vivida, aqui e agora, na indestrutibilidade dos gestos que faço: de amor, de fidelidade, de perdão, de amizade, de honestidade e de liberdade responsável. Gestos em que supero misteriosamente o tempo, alcançando a eternidade na medida em que me confio à vida e à eternidade do crucificado Ressuscitado que venceu a morte.

É bom pensar que posso resgatar a angústia do tempo, a história do meu corpo, com actos de dedicação que têm um valor definitivo, depositado na plenitude do corpo ressuscitado de Cristo!

É bom pensar que cada palavra que digo na oração é mais um tijolo lançado na eternidade para construir a morada que não tem fim.

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