O que fazer no «despertar religioso»?

Uma das grandes dificuldades da catequese actual deve-se ao facto de muitos catequizandos, apesar de frequentarem a catequese, não terem dado ainda o «salto da fé», ainda não terem dado a sua primeira adesão a Jesus Cristo.
Mas, «para que os candidatos dêem este passo, é necessário que neles tenham sido lançados os primeiros fundamentos da vida espiritual e da doutrina cristãs: um princípio de fé concebida durante o tempo do pré-catecumenado, um começo de conversão e uma primeira vontade de mudar de vida e de estabelecer relações pessoais com Deus em Cristo e, consequentemente, um primeiro sentido de penitência, a prática incipiente de invocar a Deus e de oração e ainda uma primeira experiência de vida da comunidade e do espírito cristão»(RICA 15).

Para que se possa falar de catequese propriamente dita, o catequizando deve:

– Aderir com firmeza o querigma;
– Mostrar uma conversão inicial a Jesus Cristo;
– Dar o primeiro assentimento de fé;
– Desejar seguir a Cristo;
– Desejar celebrar os Sacramentos da fé.

Agora sim, podemos contar com mais um catequizando…

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(c) 2005 – Ricardo Martinelli

Desenvolvimento Espiritual

É certo que a espiritualidade está de novo a ser descoberta e valorizada, e em sectores da sociedade estranhos e até afastados da Igreja, o que se calhar até é bom: consegue purificar-se a beleza que existe na relação com a Transcendência das «mesquinhices beatas» e «preconceitos eclesiásticos».
A tomada de consciência de que o ser humano procura uma resposta para as suas questões mais profundas, que não se esgotam num satisfazer de necessidades biológicas, e que superam a simples factualidade do dia-a-dia, lança cada ser humano na busca mais interessante da sua vida…

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As pessoas que se dedicam a investigar e a teorizar sobre estas áreas (cf. Zohar Danah e Ian Marshall, Inteligência Espiritual, ed. Sinais de Fogo, Lisboa 2005), sintetizam algumas qualidades presentes naqueles que querem progredir espiritualmente:
1 – Praticam e estimulam o auto-conhecimento profundo;
2 – São levadas por valores. São idealistas;
3 – Têm capacidade de encarar e utilizar a adversidade;
4 – São holísticas (capacidade de ver a relação entre coisas diversas);
5 – Celebram a diversidade;
6 – Têm independência (capacidade de lutar contra as convenções);
7 – Perguntam sempre «porquê»?;
8 – Têm capacidade de colocar as coisas num contexto mais amplo;
9 – Têm espontaneidade;
10 – Têm compaixão.

Ponto da Situação!

Ficam por aqui os postes sobre os direitos humanos.
Começo uma semana intensiva de formação de catequistas, estarei fora.
Quando voltar, devo ter mais ideias a fumegar.

Até já…

A dignidade da pessoa, à luz da história da salvação

O homem pecador
No segundo momento da história da salvação está o acontecimento «pecado».
Depois de criados, os homens, abandonando a justiça com relação a Deus e aos demais seres humanos, preferiram o egoísmo, a dominação, as riquezas injustas, a irresponsabilidade e as falsas delícias de todo o género. Este modo de agir conduz ao escurecimento do coração, que o Magistério actual chama de falta de sentido de pecado, que hoje está muito difundido.
Por causa deste defeito, há o perigo de que a prática e a proclamação dos direitos humanos resulte estéril, porque se põe muitas vezes o objectivo de mudar as situações injustas e pecaminosas, sem o intento de mudar os corações. Não podemos esquecer que tais estruturas normalmente são fruto dos pecados pessoais que têm a sua raiz no pecado original e que, como uma grande massa de pecados, se chama, por vezes, pecado do mundo. Mais ainda, suposta o permanente voltar-se para si mesmo do homem depois do pecado, o homem actual, ao desfrutar de maiores possibilidades técnicas e económicas, está também submetido a maiores tentações de comportar-se como senhor absoluto (e não como vice-senhor dependente de Deus) que crie umas estruturas ainda mais opressivas, com respeito aos outros.
A Igreja ao proclamar a doutrina do pecado e toda a sua integridade, convida os homens à conversão do coração, para que abandonem as injustiças. A justiça em toda a sua plenitude, proclamada pela Igreja, reconhece os direitos de Deus Pai e dos homens irmãos. Deste modo se entende que a pregação da doutrina do pecado seja uma válida contribuição para a promoção dos direitos da pessoa humana. Os cristãos, com a sua doutrina, podem dar algo de novo ao esforço universal de promover esses direitos. Para mais, pode dar-lhe uma esperança inaudita, pois o cristão não tem a sua esperança numa realidade penúltima, mas só na última, na escatologia. Deve tentar fazer sempre um mundo melhor, ainda que por vezes só veja frutos terrenos que, à imagem de Cristo, são a cruz e o fracasso. Também nesta configuração com Cristo crucificado, o homem que busca a justiça prepara o Reino escatológico de Deus. Por isso, cada cristão abraça a causa dos direitos humanos com uma profunda esperança.

O homem redimido por Cristo
A excelência da teologia da história da salvação, presente no Vaticano II, aparece também se se consideram os efeitos da redenção adquirida por Cristo o Senhor. Pela sua cruz e ressurreição, Cristo Redentor dá aos homens a salvação, a graça, a caridade activa e abre, de modo mais amplo, a participação da vida divina, simultaneamente animando, pelo mesmo facto, purificando e robustecendo os desejos generosos com os quais a família humana tenta fazer a sua vida mais humana e submeter toda a terra a este fim.
Cristo comunica estes dons, tarefas e direitos à natureza redimida e chama a todos os homens que pela fé e pela caridade se unam ao Seu mistério pascal, dando cada um a vida pelos demais, tal como Ele o fez.
A doutrina, os exemplos, e também o mistério pascal de Jesus confirmam que os esforços dos homens que procuram construir um mundo melhor, conforme à dignidade do ser humano, são dignos e rectos. Criticam as deformações destes esforços quando pensam que se pode alcançar utopicamente o seu êxito pleno aqui na terra ou se empregam meios contrários ao Evangelho para alcançar esses fins. Superam estes esforços quando se propõe com luz meramente humana, enquanto que o evangelho oferece um novo fundamento religioso especificamente cristão à dignidade e direitos humanos, e abre umas perspectivas novas e mais amplas aos homens como verdadeiros filhos adoptivos de Deus e irmãos em Cristo paciente e ressuscitado, pois Cristo está sempre presente em toda a história humana.
Os cristãos devem conformar-se, com o seu coração e com o seu agir, às exigências da vida nova e agir de acordo com a dignidade cristã, estando especialmente disposto a respeitar os direitos de todos: agindo segundo a lei de Cristo e o novo mandamento da caridade, numa atitude de total desprendimento.
No uso que cada cristão faz dos bens da criação deve cooperar com o Criador, libertando-a da escravidão e corrupção do pecado, para que sirva a justiça com respeito a todos pelos bens da dignidade humana, da comunhão fraterna e da liberdade. Desta maneira, como na nossa vida mortal levamos, pelo pecado a imagem do Adão terreno, devemos, agora, pela vida nova, levar a imagem do Adão celeste, o qual constantemente pro-existe para o bem de todos os homens.
Nesta divinização e humanização do mundo cósmico e social, o trabalho e a distribuição das riquezas tem um lugar privilegiado. O trabalho humano é um ponto crucial para a dignidade e os direitos a nível cristão. Por cima das finalidades e das estruturas próprias das coisas, das actividades e dos homens, existe uma dimensão mais profunda, que vai da cruz, sofrimento e glória, até à Parusia.

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(c) 2005 – Filipe Santos

A dignidade da pessoa, à luz da história da salvação

De acordo com a doutrina do Vaticano II, deve prestar-se bastante atenção especial à teologia da história da salvação, indagando as conecções existentes entre a teologia e a nossa dignidade humana. Esta dignidade resplandece melhor à luz de Cristo criador, encarnado e morto e ressuscitado por nós.

O homem criado
Quando a Bíblia apresenta o homem como criatura destacam-se três pontos: o homem é composto de espírito, alma e corpo; dotado de uma dimensão social e diversidade de sexos; e com a missão de dominar o mundo.
Expliquemos cada um destes pontos. Primeiramente se compreende que o homem é historicamente composto por espírito, alma e corpo, não é apenas fruto de uma evolução meramente material genérica, mas que tem uma intervenção directa de Deus, criando-o à Sua imagem. O homem não é apenas corpóreo, meramente um ser material, mas que está dotado de entendimento que procura a verdade. Possui também consciência e responsabilidade com as quais deve procurar o bem, segundo o livre arbítrio. Nestas características está o fundamento da dignidade que deve ser respeitada em todos os seres humanos.
A segunda característica é que os seres humanos são criados com uma dimensão social e diversidade de sexo, que fundamenta a união conjugal no dom do amor e da estima dos esposos e dos filhos nascidos desse amor humano, considerado na sua totalidade. Como criados por Deus e dotados das mesmas características fundamentais, todos os membros do género humano são dignos de grande consideração.
O terceiro aspecto do homem considerado no seu estado de natureza criada encontra-se na missão dada por Deus ao homem para que «domine» todas as coisas do mundo, como vice-senhor das coisas terrestres. Neste ponto desenvolve a sua dignidade, de modos diversos, inventados as artes técnicas ou belas, as ciências, as culturas, as filosofias, etc. Neste ponto está também presente a solicitude dos direitos humanos, porque todas as actividades devem regular-se segundo a justa consideração dada igualmente a todos enquanto à distribuição das responsabilidades, esforços e frutos. Quanto mais cresce o poder dos homens, tanto mais ampla é a sua responsabilidade, quer dos indivíduos, quer das comunidades.
Esta dignidade é certamente também uma vocação, a de servir só a Deus e exercitar, segundo a vontade de Deus, a preeminência sobre o mundo. Sem dúvida, o estatuto do homem como criatura privilegiada fundamenta a sua dignidade única.

Os Direitos Humanos no Magistério Eclesial

O Magistério da Igreja católica proclama com muita veemência a dignidade da pessoa humana e os seus direitos. Isto verifica-se em muitos documentos, nomeadamente a Pacem in terris de João XXIII, a Populorum progressio de Paulo VI e nos documentos de João Paulo II destaca-se Redemptoris hominis, Dives in misericordia, laborem exercens, bem como as suas alocuções e discursos nas diversas viagens.
Por sua vez, já o Concílio Ecuménico Vaticano II se tinha referido a este assunto, nomeadamente na constituição Gaudium et Spes. O Código de Direito Canónico, publicado em 1983, trata especificamente dos direitos e deveres de todos os fiéis na vida da Igreja, nos cânones 208-223.
Na pregação actual aparecem duas vias principais e complementares: a ascendente e a descendente.
A primeira, «ascendente», pertence principalmente ao direito natural das gentes, fundado em razões e argumentos, mas confirmado e elevado pela revelação divina. A partir deste ponto de vista, o homem aparece não como objecto ou instrumento que se possa usar, mas como fim intermédio, cujo bem se deve buscar por si mesmo, e em último termo, por Deus. O homem está dotado de alma espiritual, razão, liberdade, consciência, responsabilidade e de participação activa na sociedade. As relações entre os homens devem realizar-se de forma a que esta dignidade fundamental seja respeitada em todas as pessoas, e tanto quanto seja possível, se satisfaçam as necessidades de todos.
A outra via, a «descendente», mostra o fundamentos e as exigências dos direitos humanos à luz do Verbo de Deus que desce à condição humana e, no sacrifício pascal, dota todos os homens da dignidade de filhos adoptivos de Deus, para que seja, simultaneamente, actores e beneficiários de uma justiça mais elevada e de uma maior caridade. De recordar aqui o princípio da reciprocidade que recebe em Cristo um princípio cristológico(Cf Lc 6, 31.36).
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