Ver bem, o bem!

Uma das características mais interessantes dos cristãos é que veem o mundo a partir da luz de Deus, ou seja, com as cores e tonalidades próprias d’Ele.
Recordemos um símbolo muito interessante do Batismo: a vela acesa. Esta simboliza Cristo, que é luz e vida. A nova vida é luminosa, o corpo do batizado é reflexo de Deus na terra, segundo as palavras de São Paulo: «E nós todos que, com o rosto descoberto, refletimos a glória do Senhor, somos transfigurados na sua própria imagem, de glória em glória, pelo Senhor que é Espírito» (2 Cor 3, 18).


Cada cristão é chamado a ser filho da luz, luz do mundo!
Jesus, em cada cura, não se limita a libertar a pessoa das enfermidades físicas, antes abre caminhos para a libertação das escravidões interiores, as mais difíceis de ver e de sarar, pois só com Deus se pode fazer. As curas, tal como a conversão, não é um simples acontecimento, mas um continuum, em direção à Meta.

Por isso, “querer ver” idenfica-se com o querer ser, querer ser com Jesus, como Jesus.

Boa Samaritana

No Poço de Jacob, Jesus mostra-nos o modo com Deus nos quer guiar em direção à com Ele. A iniciativa é de Deus, que se aproxima e fala, tomando a iniciativa de amar cada pessoa com um amor pessoal, que se dirige a cada um em particular chamando-o pelo próprio nome. Deus só quer a salvação de todos!
Chama cada pessoa, numa caminhada de conversão. Educa para a autêntica liberdade. Por vezes este dado é esquecido, mas Deus continua pacientemente a chamar à atenção para os caminhos da verdadeira liberdade.
Deus fala, partindo de algo que perceptível, que pertence à nossa experiência, e procura levar-nos a descobrir e compreender algo novo do Seu ser, do Seu amor, da Sua vontade. Mais ainda: Deus ilumina o Seu povo através dos profetas para que compreendam o sentido da história que estão vivendo, dos acontecimentos que Deus quis ou permitiu.
A linguagem que Deus utiliza para se fazer entender é uma linguagem simbólica: é a vinha, sarça, o fogo, a nuvem, … a água! É através dos símbolos, na sua materialidade humana, que Deus quer fazer-se conhecer e comunicar-se a cada um.

Com a Samaritana percebemos que Deus usa a pedagogia do amor, do diálogo, do respeito pela pessoa, da progressividade, da auto-descoberta e da encarnação. Deus chama, adverte, condescende, confia, espera, repreende, perdoa, mas sobretudo ama.

Transfiguração

A Transfiguração de Jesus “mostra-nos” quem Ele é! Mostra que é Deus, o Filho amado do Pai, que nos é revelado no Espírito. E a quem nos exorta Deus a escutar e seguir: «Este é o meu Filho muito amado,
no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O».
Este convite à escuta é muito sugestivo, porque só na escuta é que se aprendem as palavras que são capazes de dizer a realidade!
A Quaresma, como tempo privilegiado de conversão, é chamada a ser um tempo sobretudo de escuta: escutar Deus, escutar os irmãos e escutar o mundo. Esta escuta precisa de ser percebida, decifrada, e aqui entra, mais uma vez, a importância da Palavra divina, aquela que nos ensina a ver e a perceber a presença e ação de Deus no mundo.
Não é justo dizer que Deus não está e não atua quando o nosso juízo é feito com critérios que O não incluem. E inclui-lO implica discernir os sinais dos tempos à luz do Evangelho (GS 4), sem exclusões nem confusões.
Trata-se duma ação que exige atenção àquilo que inquieta e move a humanidade nas diversas circunstâncias por que vai passando, «para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas» (GS 4).

Tentações

Falar de tentações é recordar tudo aquilo que nos pode afastar de Deus.

As tentações acabam por ser uma proposta revestida de bondade, uma porta aberta a caminhos aparentemente mais fáceis.
Ao recordar as tentações de Cristo, pelo menos as duas primeiras, não se revestem de nenhuma maldade só por si: transformar pedras em pão, ser admirado pelas multidões… O erro está é em alterar as prioridades da nossa vida.
A Quaresma, como tempo de conversão, é um tempo favorável à reorganização pessoal e comunitária!
E como se consegue isso? Do mesmo modo como cristo venceu as tentações: focando-se na palavra de Deus, aderindo ao Deus verdadeiro e não aos ídolos, e recusando todo o poder que seja opressivo e ostentatório.