A pedagogia divina, modelo da pedagogia da fé

Num contexto de nova evangelização, ou de proposta continuamente renovada da comunhão com Deus, urge recolocar Deus no centro das perguntas do nosso existir e deixar que seja Ele a resposta, e não dar respostas d’Ele. É próprio Concílio Vaticano II alerta os crentes que «[os cristão] pela negligência da sua fé, ou pelas deficiências da sua vida religiosa, moral e social, esconderam, mais do que revelaram, o autêntico rosto de Deus» (GS 19). Assim, num mundo plural e em permanente mudança, urge a necessidade de uma nova refontalização da pedagogia da fé, ou seja, uma pedagogia que eduque de forma personalizada e que respeite e preserve a originalidade e individualidade de cada pessoa, bem como as suas dúvidas e as suas aspirações.
 A pedagogia da fé, ao inspirara-se na pedagogia divina, é como que uma arte de fazer suscitar, despertar, descobrir e fazer crescer a fé (DGC 143), a catequese tem de encontrar uma pedagogia que seja capaz de comunicar a Palavra de Deus, tendo em atenção os diferentes destinatários a quem se dirige. Deste modo, a catequese deve utilizar uma pedagogia que esteja ao serviço da fé, ou seja, uma pedagogia personalizada, dinâmica e ativa, que comunique, a Revelação de Deus, numa atitude de busca contínua, para que os catequizandos possam encontrar e aderir a Deus, assumindo um estilo de vida cristão.
Ao longo de toda a História da Salvação, no Antigo Testamento e principalmente nos Evangelhos, Deus serviu-se de uma pedagogia, através da qual se ia dando a conhecer. Com efeito, Deus procurou falar à humanidade, como amigos, revelando o Seu amor gratuito e incondicional. Deus apresenta-se como nosso Pai, aceita cada um de nós tal como somos e respeita, com benevolência, o nosso ritmo de crescimento na fé. Deus é um verdadeiro Mestre, um Educador que educa a partir de situações reais, e extraindo delas lições de sabedoria.

A revelação que Deus foi fazendo de Si mesmo à humanidade atinge a sua plenitude em Jesus Cristo, Seu Filho, que continuou a “Pedagogia de Deus” com a perfeição e a eficácia próprias da novidade da Sua pessoa (DGC 140). Tal como Deus, o ensino e a vida de Jesus são pautados pelo amor dedicado, sincero e gratuito. A vida e a mensagem de Jesus são um desafio constante à conversão, à vivência do mandamento novo da caridade! É um convite permanente a uma nova forma de pensar, de amar, de agir e de viver — é um novo estilo de vida —, procurando suscitar em cada pessoa uma resposta livre, para que este adira livremente ao Evangelho. A pedagogia de Jesus convida cada pessoa a uma forma de viver marcada pela fé em Deus, pela esperança do Reino e pela caridade para com o próximo (DGC 140). No anúncio da Boa Nova, Jesus procura seguir uma pedagogia pautada pela atenção e pelo respeito às pessoas; pela escuta e pelo diálogo, aproximando-se das pessoas, dando o primeiro passo e oferecendo-lhes a sua amizade; pela confiança nas pessoas e pela gratidão, procurando sempre desviar a atenção e o entusiasmo das pessoas para com a sua pessoa. Jesus não procura centrar as atenções em Si, mas no Reino e em Deus Pai! Jesus procura anunciar os mistérios de Deus partindo sempre das experiências reais das pessoas e utilizando uma linguagem simples e significativa.
Eis aqui uma série de atitudes pedagógicas de Jesus que devem inspirar a catequese. Com efeito, «a catequese, sendo comunicação da revelação divina, inspira-se radicalmente na pedagogia de Deus […], acolhe os parâmetros constitutivos e, guiada pelo Espírito Santo, faz uma sábia síntese da mesma, favorecendo, assim, uma verdadeira experiência de fé, um encontro filial com Deus» (DGC 143). Ainda a este respeito, na sua Exortação Apostólica Catechesi Tradendae, também João Paulo II refere que «o próprio Deus serviu-se de uma pedagogia que deve continuar a ser modelo da pedagogia da fé» (CT 58).

A pedagogia catequética deve, então, ser:
– uma pedagogia que coloque os catequizandos em diálogo com Deus, numa relação interpessoal;
– uma pedagogia que respeite a progressividade da revelação divina e a dimensão misteriosa da Palavra de Deus;
– uma pedagogia que reconheça a pessoa de Jesus Cristo como centro da vida humana, razão pela qual o Evangelho deve ser proposta para e na vida das pessoas;
– uma pedagogia que valorize a vivência da fé nas comunidades cristãs;
– uma pedagogia de sinais, para que Palavra de Deus se transmita por meio de palavras e ações;
– e, por fim, mas não no fim, uma pedagogia que deixe espaço à ação do Espírito Santo, pois é dele que a catequese recebe a força e empenho para dar continuidade à revelação da ação de Deus no coração de cada pessoa.

«Graças ao dom do Espírito Santo enviado por Cristo, o discípulo cresce como o seu Mestre “em sabedoria, em estatura e em graça diante dos homens”» (DGC 142).

O Quê?!?!


Esta imagem fez-me pensar, por analogia, naquilo que acontece nas catequese. Ou não será? 😉

Pérolas na Internet!

Desscobri, há dias, um blogue excepcional, onde estão testos maravilhosos de António Couto.

Deixo aqui o início de um fabuloso, sobre os caminhos de pedagogia evangélica.

Os Evangelhos sabem que a história de Jesus que transmitem é a história da manifestação de Deus entre nós. E que não é apenas a história de um homem sábio e justo que nos vem ensinar, ainda que de modo exemplar, como devemos estar diante de Deus. Isso já nós sabíamos e estamos já aptos a saber antes de ouvir ou de ler qualquer Evangelho. Não seria notícia, portanto. Notícia, e boa, é que Jesus tenha vindo mostrar-nos, não como nós devemos estar diante de Deus, mas como é que Deus está diante de nós, em relação a nós. Não como nós nos devemos comportar com Deus, mas antes disso, sempre antes disso, como é que Deus se comporta connosco. É este o espaço da inaudita notícia e da surpresa.

E para nos mostrar Deus, Jesus desce ao nosso nível. Não subjuga o homem comensinamentos altissonantes e evidências esmagadoras capazes de produzir efeitos automáticos independentemente do homem, mas antes solicita e estimula a nossa inteligência, vontade e sensibilidade, de modo a sabermos dar a nossa resposta acolhedora, fazendo as operações mentais e afectivas necessárias para nos implicarmos correctamente na notícia comunicada, na associação apenas evocada, na pergunta formulada, no olhar e dizer que nos penetra e diz e institui, no gesto que nos surpreende e provoca.

Mas lá há MUITOS e bons, agrupados em três categorias: Diário, Estudos e Missão.
Vale a pena conhecer. E se este Autor, agora Bispo Auxiliar de Braga, mudar de local onde coloca estas preciosidades. Cá estarei para informar…