Eu estou sempre convosco

É sintomático que as últimas palavras de Jesus sejam: «Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos»!  Note-se que o verbo está no presente. Não é uma promessa, estarei, mas sim uma realidade atual, estou. Esta voz que interpela tem, no quotidiano/presente, a sua caixa de ressonância mais elementar e o seu palco. É aqui que se percebe e se diz. É aqui que poderá ser escutada e correspondida. A relação com a alteridade divina, o totalmente outro, que me atrai e me implica, com tudo o que ela tem de fascinante e de tremendo, joga-se no espaço vital da consciência que temos de nós próprios como corpo/carne sensível e relacional, na exposição quotidiana às possibilidades e dramas da liberdade. E é aqui que constatamos que Deus não envolve menos do que a totalidade do que somos: corpo, afetos, desejos, inteligência, liberdade, imaginação, vontade… E também não nos pede nada menos do que começarmos por ser, no mínimo, realmente humanos.
É por isso que a fé cristã implica com os conceitos de ser humano, de Deus e, admire-se!, de religião. Crer ao estilo cristão configura um determinado conceito de pessoa, assume um determinado Deus, e estabelece uma demarcada forma de ser crente. Sempre em tensão entre a verdade e a justiça, entre o humano e o divino.

A fé no digital!

O(s) “deus(es)”, na Internet, acompanham as ofertas de mercado, dando resposta às necessidades evidenciadas pelos consumidores. E estas serão tanto mais “verdadeiras”, quando os “gostos” e as partilhas o evidenciarem (Web 2.0). Mas subsiste a certeza de que o Deus de Jesus Cristo não se encontra senão na lógica da busca de sentido, não se reduz a um software, mas na articulação cultural onde o significado não é abstracto, mas contextualizado na identidade crente, que se descobre no fio da história.


Comunhão

Para se realizar plenamente, cada pessoa precisa de entrar em relação com o mundo, o que implica perceber e aceitar o outro na sua totalidade, na sua unidade e sua unicidade. É preciso que ele se torne presença para mim.
O diálogo genuíno só se dá em clima de plena reciprocidade, quando o indivíduo experiencia a relação também do lado do outro, sem contudo abdicar da especificidade própria, o que gera uma multiplicidade de interesses.
Assim, o rosto da Igreja há de ser múltiplo, pois na pessoa de Cristo tornou-se possível uma comunhão entre Deus e o homem. Ao mesmo tempo, a pessoa do Filho tornou-se lugar da comunhão entre os homens, na medida em que cada um destes está unido ao Filho.

O pluralismo dos pontos de vista e o nascimento de conflitos internos, com os diversos ritmos, constituem para cada um dos grupos eclesiais a inevitável prova duma passagem do entusiasmo frágil dos primeiros encontros a um compromisso verdadeiro na e pela realidade evangélica da comunhão. Cada pessoa é chamada a ultrapassar-se permanentemente, por causa de Cristo, tendo como consequência um aprofundamento do conceito de comunhão e a tomada de consciência do seu papel inevitável numa sociedade plural, incapaz de se dizer através de um único discurso, e que para mais está sujeita a profundas transformações.

Quem é a Igreja?

A Igreja existe por causa de um acontecimento, que é a Páscoa, e perspectiva-se no carácter pessoal: a questão é quem é (ou quem somos Igreja) e não o que é a Igreja. A questão assim colocada sai da forma de questionar no âmbito das coisas para o âmbito da real existência eclesial, que é ao nível pessoal.
A Igreja, que é um ser um com o outro, constituída por pessoas, não é determinada por uma utilidade e proveito comuns, antes tem o seu fundamento na graça de Deus e no seu Espírito santo. Este ser um com o outro, que não é excludente, é aberto a todos, pois os crentes vivem da convicção de que cada um é chamado a esta aliança de Deus com todos. Este ser um com o outro iniciado pela iniciativa de Deus subsiste apenas aí, na comunidade eclesial, e concretiza-se em cada acontecer histórico. Por isso, a  Igreja é um espaço de vida, pelo que cristãos creem a Igreja, porque creem no Espírito Santo. E perceber a identidade da Igreja só é possível quando se participa da vida eclesial, como lugar próprio de compreensão. Não é por acaso que Jesus, àqueles que lhe perguntava quem era (onde moras?), não lhe explica, antes convida à participação: «“Vinde e vereis”. Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia» (Jo 1, 39).
É que dentro é o único local onde se compreende!

Vocação do Catequista

“Não fostes vós que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi” (Jo 15,16).

Aquando o Baptismo, todo o cristão recebe a responsabilidade de colaborar, segundo as suas capacidades, no anúncio da Palavra de Deus. Ora, ser catequista é uma forma concreta e específica de viver e exercer essa responsabilidade em anunciar e testemunhar o Senhor na comunidade e no mundo. Com efeito, o catequista é alguém que recebeu o chamamento de Deus, enviando-o para ser o mensageiro, o porta-voz da mensagem do Senhor e testemunha dos valores do Reino: «Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado, será salvo. Quem não acreditar será condenado» (Mc. 16, 15-16).
Com efeito, «além da vocação comum ao apostolado, alguns leigos sentem-se chamados interiormente por Deus, a assumirem a tarefa de catequistas. A Igreja suscita e distingue esta vocação divina, e confere a missão de catequizar. Dessa forma, o Senhor Jesus convida homens e mulheres, de uma maneira especial, a segui-Lo, mestre e formador dos discípulos. Este chamado pessoal de Jesus Cristo e a relação com Ele são o verdadeiro motor da acção do catequista. É deste conhecimento amoroso de Cristo que jorra o desejo de anunciá-Lo, de “evangelizar”, e de levar outros ao “sim” da fé em Jesus Cristo» (DGC 231). O catequista é, então, um apóstolo que participa na missão da Igreja  e de Jesus Cristo no anúncio da Boa Nova. O catequista é aquele que, pelo testemunho da sua própria vida, e pela Palavra que transmite, torna Jesus presente no íntimo dos seus catequizandos e dá-lhes a conhecer o Seu amor.

A missão do catequista será tanto mais fiel quanto mais estiver em união com Deus, consciente de se saber apenas instrumento, já que o principal catequista é o Espírito Santo (EN 75). Ao catequista cabe apenas a missão de colaborar com a ação de Deus e ajudar os catequizandos a acolher a ação do Espírito Santo na vida de cada pessoa e na sua conversão ao Senhor Jesus (DGC 22). «Quem vos ouve, a Mim ouve» (Lc 10,16).
Sendo o catequista alguém que recebeu de Deus o dom de anunciar a Sua Palavra a todos os homens, o catequista deve ser dotado, em ordem à exigência da sua missão, de uma profunda espiritualidade, capaz de o ajudar a renovar-se continuamente na sua identidade. Como Maria, o catequista deve procurar acolher com humildade a Palavra de Deus, meditando-a e pautando a sua vida tendo por referência o Evangelho.
No seu discurso dirigido aos diretores nacionais, aos colaboradores e às colaboradoras das pontifícias obras missionárias, o Papa João Paulo II afirmava que “o verdadeiro missionário é o santo” Esta expressão «pode aplicar-se certamente ao catequista. Como todo o fiél, o catequista “está chamado à santidade de missão”, ou seja a realizar a sua própria vocação ‘com o fervor dos santos» (GCM 6), pois sabe que é portador de uma sabedoria que vem de Deus.

Vocação

Perceber-se como homem ou mulher chamado/vocacionado, consiste em assumir que a vida, e o seu sentido, só se percebem através da doação. Viver a própria vocação é saborear como um privilégio poder lavar os pés dos irmãos mais pobres, o que implica conquistar a liberdade de perder o próprio tempo com as necessidades alheias. A experiência do serviço é uma experiência de grande liberdade em Cristo.
E é aqui que, invariavelmente, se encontra Deus e se entra em sintonia com Ele, não sendo difícil descobrir a vontade de Deus sobre o mundo e sobre cada um de nós, obtendo as forças para a cumprir com alegria. É a partir desta perspectiva que se percebe que o mundo precisa de vocações abertas à vida. Mas de uma vida percebida a partir da familiaridade com o mistérios divino, que saibam celebrar a experiência de Deus e aponta-lO no quotidiano.
Mas precisa sobretudo de comunidades conscientes da sua vocação, que sejam capazes de mostrar uma Igreja livre, aberta, dinâmica, comprometida com a história e que assume os sofrimentos do povo. Acolhedora para todos e promotora da justiça, logo atenta aos pobres. Nada preocupada com a estatística ou em colocar muros na sua ação.

Só uma vocação/santidade assim será capaz de levar Deus aos cidadãos do hoje.

Educar no Mistério

A catequese e a celebração da fé não podem viver uma sem a outra dentro da Igreja. Em boa verdade, uma catequese que se dissocie da experiência cristã vivida em comunidade, é uma catequese alienada, exterior à realidade dessa comunidade e cujos conteúdos não são mais do que simples informações de cariz religioso. Ainda que a ação catequética seja fundamental, esta deve também ser vivida e celebrada nas ações litúrgicas, momento onde todos os cristãos celebram o Mistério Pascal.
Aliás, é aqui, na realidade do Mistério que radica a solução desta dificuldade. Não podemos continuar a dissociar as diversas dimensões da pastoral. Muitas vezes, após o século XVI e fruto das mutações culturais operadas na Europa, procurou-se afirmar a fé com expressões isentas de erro, formalmente corretas. Esta realidade, a ortodoxia da afirmação, levou a que se separassem as diversas disciplinas teológicas. Veja-se todo o ambiente pré-concílio Vaticano II: movimento bíblico, movimento catequético, movimento litúrgico…
A solução está na redescoberta daquilo que é o Mistério Cristão, aquela realidade onde o crente habita e da qual faz parte.
 A Liturgia é, na verdade, a fonte e o cume de toda a vida cristã (cf. LG 11), onde os catequizandos experimentam e vivenciam em comunidade o que ouvem na catequese e descobrem sinais visíveis da experiência de Deus: «A catequese está intrinsecamente ligada a toda ação litúrgica e sacramental. Pois é nos sacramentos, e sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a transformação dos homens» (CCE 1074).

Por sua vez, a Igreja, que transmite a fé como dom do Senhor, que está presente na Sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas (cf. SC 7), acredita ser importante que os cristãos participem ativa, mas também conscientemente, na liturgia, onde celebram a presença salvífica de Cristo. Assim, à catequese, como caminho de fé e inserção na vida eclesial, compete iniciar o catequizando na liturgia, favorecendo o conhecimento dos significados litúrgicos e sacramentais, de forma a que a celebração dos ritos cristãos sejam, de facto, expressão dum caminho de fé que garanta a verdade e a autenticidade. Não se trata apenas de uma instrução sobre um determinado objeto religioso, mas uma iniciação viva e orante que deve levar à interiorização do culto litúrgico: «a vida sacramental empobrece e bem depressa e se torna um ritualismo oco, se ela não estiver fundada num conhecimento sério do que significam os sacramentos. E a catequese intelectualiza-se, se não for haurir vida numa prática sacramental» (CT 23). A catequese é uma aprendizagem dinâmica da fé, da vida cristã, e da celebração da eucaristia, e não pode prescindir de momentos celebrativos e festivos fortes, porque sem expressão de fé não há comunicação nem amadurecimento da fé.
 Deste modo, a catequese deve conduzir o catequizando a uma experiência viva da presença e ação de Cristo na vida da Igreja, de modo a poder levar a um seguimento firme do Senhor e um compromisso missionário. Quando as pessoas são evangelizadas a partir da sua própria vivência cristã e, a partir daí, se sentem chamados a se identificarem a  Cristo, a liturgia e os sacramentos assumem nas suas vidas um novo valor e um sentido diferente.