O amor do Catequista

Ninguém nasce cristão, torna-se cristão! 
A vida cristã é, na verdade, um caminho contínuo de conversão à Pessoa de Jesus Cristo e, por Ele, à Trindade. Neste itinerário de conversão, o catequista assume um papel prioritário e fundamental, uma vez que é ele que acompanha os catequizandos no seu crescimento na vida da fé, a fim de os tornar discípulos de Cristo. Esta é talvez a tarefa mais importante na missão do catequista.
O catequista é alguém que, tal como Jesus Cristo, caminha lado a lado com o catequizando, amando e respeitando cada um em particular, com as suas qualidades, capacidades, e necessidades. A sua missão é, pois, a de servir e amar cada catequizando, na sua individualidade e originalidade: «A obra da evangelização pressupõe no evangelizador um amor fraterno, sempre crescente, para com aqueles a quem ele evangeliza» (EN 76). Assim, para um bom exercício da sua missão apostólica, O Senhor pede então que, tal como Ele, o catequista seja capaz de acolher cada catequizando com amor e afeição. Trata-se, não obstante, de uma afeição «muito maior do que aquela que pode ter um pedagogo, é a afeição de um pai, e mais ainda, a de uma mãe. É uma afeição assim, que o Senhor espera de cada pregador do Evangelho e de cada edificador da Igreja» (EN 76).


Na sua primeira carta aos Coríntios, o apóstolo São Paulo deixou uma importante descrição da caridade, do amor, a qual deve orientar a acção do catequista no exercício do seu ministério:

O amor é paciente,
o amor é prestável,
não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,
nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.
Não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê,tudo espera, tudo suporta. (1 Cor 13, 4-7)

Em suma, sendo missão do catequista espalhar, com gestos e palavras, a mensagem salvadora do amor a todos os catequizandos, este deve manifestar o amor de Deus por cada ser humano, amando cada um em particular. Assim sendo, o catequista deve procurar: ser paciente, respeitando o ritmo próprio de cada um; estar atento para não cair na tentação de se servir a si próprio, de olhar apenas para si e não para o catequizando; respeitar a individualidade de cada um, sem preconceitos; acolher a cada um e interpretar os seus sentimentos. Na verdade, a catequese resume-se a isto mesmo: anunciar o amor que Deus é e tem por cada ser humano. Anunciar o amor de Deus é o mesmo que viver esse amor, pois não se pode falar de Deus como algo exterior, mas tem de ser algo que faz parte da própria vida de quem anuncia, fruto da sua comunhão de vida com o Senhor. O catequista não só lê e conhece a Palavra de Deus; ele é um “seguidor” de Jesus. Quando o catequista manifesta, com suas palavras e obras, o amor de Deus, revelado em Jesus Cristo, o catequizando recordá-lo-á como uma experiência viva e real que transformou a sua vida. O catequista tem de saber escolher o amor a Deus e ao próximo como valores fundamentais da vida.

Catequese e Famílias, um novo desafio

A crise familiar e sua consequente perda de identidade

Actualmente, um dos temas que mais preocupações tem suscitado no seio da nossa sociedade é justamente a crise familiar, cuja perda de identidade tem vindo a intensificar-se nas últimas décadas.
Na verdade, são inegáveis as transformações sociais, culturais e políticas que convergem para provocar uma crise cada vez mais evidente da família, comprometendo «em boa medida, a verdade e a dignidade da pessoa humana e põem em discussão, desfigurando-o, o próprio conceito de família» (EE 90).  
Em boa verdade, a família, célula viva da nossa sociedade, está profundamente transformada nos seus modos de constituição, nas suas formas, na sua composição, assim como na sua própria estrutura. Se observarmos atentamente a realidade que nos envolve, é cada vez mais recorrente o aumento do número de famílias ausentes, desestruturadas, com pouco tempo para o convívio familiar e pouco conscientes do seu papel de primeiros educadores, muito devido às intensas solicitações exteriores à própria família.

Novo contexto sócio-cultural e religioso na transmissão da fé

As profundas transformações socioculturais que marcam esta nova situação familiar repercutem-se, invariavelmente, ao nível da transmissão da fé. Com efeito, se antes a comunicação da mesma passava quase espontaneamente de pais para filhos, hoje a transmissão da fé depara-se com dificuldades cada vez maiores. Constata-se, na verdade, que, na globalidade das crianças e adolescentes que frequentam a catequese, muitos destes não adquirem o sentido da presença e da amizade de Deus, e muitos deles nem sempre podem contar com o apoio da família para o crescimento da fé. Falta-lhes, em geral, uma relação vivida com Deus e uma leitura da vida humana à luz desta relação. Conscientes desta ausência de união entre a fé e a vida, uma das apreensões mais recorrentes dos párocos e catequistas assenta, frequentemente, na fraca motivação dos pais em acompanhar o crescimento de fé dos seus educandos. Com efeito, ainda que, no processo de evangelização, encontremos pais corajosos, dispostos a aprofundar a sua fé, a fim de a poderem transmitir aos seus filhos, verificámos, no entanto, que muitos outros pais se encontram desencorajados e pouco conscientes da sua missão evangelizadora, porque sem a pertença mínima à memória da fé cristã.


Verifica-se que a transmissão da fé, que antes tinha os seus canais próprios na família, encontra-se, hoje, debilitada, sendo, pois, urgente, «redescobrir a verdade da família, enquanto íntima comunhão de vida e de amor, aberta à geração de novas pessoas; a sua dignidade de “igreja doméstica” e a sua participação na missão da Igreja e na vida da sociedade» (EE 90). A este respeito, também João Paulo II, na sua Exortação Apostólica sobre a Catequese para Hoje, enfatiza o papel missionário da família, considerando a sua «ação catequética (…) em certo sentido, insubstituível» (CT 68). De facto, é na família que cada um de nós experiencia momentos estruturantes que nos levam a tomar consciência de sermos pessoas humanas e é nela que vivenciamos o sentimento mais precioso e belo que qualquer ser humano pode e deve experienciar: o Amor. É importante perceber que a família é, antes de mais, uma comunhão de amor, e só através de um verdadeiro testemunho de amor na família, podemos sentir uma verdadeira experiência de Deus: «Como sem o amor, a família não é uma comunidade de pessoas, assim também, sem o amor, a família não pode viver, crescer, aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas» (FC 18).  

A família: escola de fé

A família é, neste sentido, a primeira escola de fé, o espaço onde os seus membros sentem a presença do amor de Deus, sentem-se como uma Igreja doméstica, onde o amor é uma realidade presente e constante. Mais do que qualquer palavra, o processo de crescimento da fé, na família, brota da convivência, do clima familiar e do testemunho de vida de fé dos pais.
Destarte, e sendo que «a catequese familiar (…) precede, acompanha e enriquece todas as outras formas de catequese» (CT 68), impõe-se, hoje, mais do que nunca, um claro desafio à evangelização e ao trabalho desenvolvido com os pais das crianças e adolescentes que participam nas nossas catequeses paroquiais, em direcção a uma verdadeira consciência catequética familiar. De facto, para que toda a Igreja cresça em comunidade, é prioritário ajudar as famílias a serem experiências de comunhão de vida e de amor, consciencializando-as da sua missão enquanto primeiras educadoras da fé. Ora, sendo a catequese uma caminhada conjunta, onde todos os membros da comunidade cristã (pais, catequistas, catequizando e demais povo de Deus) procuram testemunhar e anunciar a Palavra de Deus, os pais devem ser orientados e ajudados, não só para dar uma formação consciente e explicitamente cristã aos filhos, mas também para eles mesmos crescerem no seu compromisso cristão e na capacidade de iluminar pela fé a realidade familiar e social, que são chama­dos a construir. 


Revela-se, deste modo, prioritário encorajar todos membros da comunidade cristã, em particular catequistas e párocos, a ajudar os pais a cumprirem a sua missão evangelizadora, promovendo, para tal, serviços acolhedores, dedicados e perseverantes, que fomentem a participação activa dos mesmos nesta caminhada. Assim sendo, é de todo vantajoso que cada paróquia se dedique à promoção de um verdadeiro percurso catequético de adultos, uma vez que comunidade cristã não poderá pôr em prática uma catequese permanente, sem a participação direta e consciente dos pais e demais adultos. Em boa verdade, não nos podemos esquecer que a família não é um simples destinatário ou objecto de catequese, mas, pelo contrário, é o local por excelência de catequese, sobretudo na primeira infância. Nesse sentido, é fundamental ter em atenção o testemunho de fé e de amor, as necessidades, os interesses e problemas de cada uma das famílias envolvidas no processo catequético. Dever-se-á, pois, estimular, entre pais e catequistas, uma relação positiva, franca e aberta, assente no diálogo e na confiança, onde todos os membros se sintam incentivados a colaborar activamente, e em conjunto, na planificação dos diferentes momentos do acto catequético. Trata-se, pois, de criar, entre estes, uma «educação partilhada», onde todos intervêm plenamente na caminhada catequética. Consequentemente, a catequese deixa de ser concebida como algo que é oferecido aos pais, passando, pelo contrário, a ser desenvolvida e vivida por todos. Sentindo-se acolhidos, os pais sentem-se envolvidos na catequese dos seus filhos. Isto dependerá, não obstante, do trabalho de equipa desenvolvido pelos diferentes responsáveis, assim como da qualidade da relação comunicativa desenvolvida entre os mesmos. Contudo, e apesar das dificuldades que este trabalho de equipa comporta, não nos podemos esquecer que este trabalho permitirá a condução dos catequizandos a uma vida verdadeiramente cristã, humana e feliz.

Objetivos na Catequese!? Para quê?

A catequese, enquanto serviço eclesial de transmissão da fé cristã, tem como missão levar o catequizando a entrar em comunhão e em intimidade com Jesus Cristo (CT 5), convidando-o a uma relação pessoal de amizade com Ele. Esta é, de facto, a grande meta da catequese.

 Deste modo, com vista à conversão do catequizando a Jesus Cristo, a ação catequética deve ser norteada de forma a dar a este uma formação orgânica e sistemática da fé cristã, orientando-se por um conjunto de objectivos gerais ajustados aos itinerários catequéticos propostos. Com efeito, ainda que a grande finalidade da catequese seja a de favorecer, no catequizando, uma profissão de fé viva, explícita e atuante, esta deve ter sempre em atenção a realidade dos catequizandos, a sua idade, assim como a sua caminhada anterior.
Assim, é importante que, no início de cada ano catequético, o catequista, ou grupo de catequistas, proceda a uma análise e reflexão dos objetivos propostos no guia, quer para o ano em que este está diretamente envolvido, quer para a fase em que esse ano está inserido.
Em boa verdade, sendo a catequese um encontro com Deus, e para que esta atinja a sua meta, é essencial prepará-la com a antecedência devida. Este é um trabalho que deve ser feito com calma e muita ponderação pelo catequista, ou grupo de catequistas. Além disso, é muito importante que, no seu trabalho de preparação da catequese, o catequista tenha presente a realidade do seu grupo de catequese (as suas necessidades, expectativas, os seus conhecimentos), de forma a que, em harmonia com os objectivos gerais de cada itinerário catequético, e em coerência com a grande finalidade da catequese, trace um caminho a seguir, bem como um conjunto de objectivos claros e precisos – o que fazer e porquê –, por forma a alcançar o que se pretende. A sua função é a de clarificar e a de orientar a ação catequética do catequista. Na verdade, apenas com a definição dos objectivos, o catequista poderá preparar e desenvolver um conjunto de estratégias e dinâmicas orientadas para a motivação da aprendizagem.

Só tendo bem claro o que se pretende atingir, o catequista poderá avaliar, de facto, se estes objectivos, previamente definidos, foram ou não atingidos. Só através de uma avaliação regular, o catequista poderá refletir sobre o seu desempenho, melhorando-o, assim como fazer correções e adaptações necessárias, a fim de atingir a meta da catequese. O catequista, no acompanhamento personalizado da caminhada de cada catequizando, vai aferindo se este está a aderir a Jesus Cristo e à fé da Igreja, aproximando-se cada vez mais da finalidade da catequese.

Professar a fé nas Redes

Há uns tempos pensava-se que estar no mundo dos media, entendendo-os como comunicação de massas – os mass media  –, era possuir e utilizar as comunicações de grande difusão. Aqui poucos comunicadores podiam chegar a um grande número de receptores, com uma mensagem bem delineada e clara.
Atualmente, graças à televisão por cabo, à rádio que se ouve à la carte, graças ao podcasting , e às ferramentas da Web 2.0, que permitem a cada cibernauta produzir e difundir aquilo que quiser, de forma rápida, gratuita e muito eficaz, estamos no tempo, não já dos mass media, mas sim dos cross media. E os cristãos são chamados a estar neste ambiente.


O dominicano José Mourão [1947-2011] lançou um desafio muito lúcido quando disse: «a idade da religião como estrutura acabou, a sua função social está a apagar-se. Resta a função subjectiva da experiência religiosa». Até mesmo os sítios onde se faz eco ou dá expressão católica da religião são sítios propícios ao esoterismo e a uma nebulosa de tal modo intrincada que torna difícil a proposta e educação da fé — o testemunho — tornando evidente a necessidade de um «atlas da verdade». Mas «abraçar a fé implica ipso facto para o crente uma auto-exposição às dificuldades duma situação de desolação. ‘A experiência é um embaraço absoluto (…) que pertence à vida do próprio cristão. A afirmação (da Palavra) é para ele uma auto-exposição à ferida da linguagem, antes de mais. Este embaraço é uma característica fundamental, uma inquietude absoluta no horizonte da parusia escatológica’».


Ainda de acordo com José Mourão, «estamos a assistir:
a) à atomização das pequenas narrativas crentes em que a experiência pessoal se torna o seu próprio critério de verificação;
b) à substituição progressiva da relação autorizada com a memória crista (Magistério) por uma pragmática com o stock  disponível das significações cristãs, transformadas em caixa de ferramentas a que se recorre conforme as necessidades (…).
c) ao processo de eufemização das tradições na Tradição com as suas arestas, práticas e conflitos. O catolicismo sobrevive como ‘meio ético-afectivo’ numa sociedade laicizada em profundidade. O cristianismo não pode pretender ao universal senão com a consciência da sua particularidade histórica: ‘É à luz duma teologia da cruz que se pode reaver a singularidade do cristianismo como religião da alteridade.
A verdade cristã é relativa, no sentido de relacional à pluralidade das verdades próprias de cada tradição religiosa. À parte de verdade irredutível que toda a tradição religiosa transporta’.

A sociedade dos media coloca aos cristãos uma questão sobre o acto de tradição: um simples acto de repetição, ou de recriação do lado do emissor, se quer ser criação do lado do receptor?  A perspectiva utilitarista e instrumental que a Igreja tem dos media é excessivamente redutora do seu papel – os media determinam novos universos mentais, uma nova cultura».

Perante a problemática agora exposta, precisamos, então, de uma ferramenta mental que nos ajude a calibrar o nosso olhar. Que nos dê a possibilidade de  a Igreja estar no mundo dos media e aí realizar a sua missão.


Uma cultura com sentido. O desafio dos média! *

A sociedade actual é animada pela comunicação, e apesar de se terem descoberto nela limitações, contradições e práticas que a obrigam a adaptar-se e a transformar-se, muitas das suas estratégias permanecem ainda ocultas, ambíguas. Muitas das suas consequências são-nos ainda desconhecidas. É necessário compreendê-las, uma vez que a mentalidade resultante daqui modela a cultura, e os modos de pensar tornam-se diferentes dos do passado: a técnica progrediu tanto que transforma a face da terra e tenta já dominar o espaço.
O progresso que se faz sentir é imparável: a ciência e a técnica continuarão a desenvolver-se segundo uma lógica que lhes é imanente e necessária, na qual cada indivíduo é chamado a tomar responsabilidades. Importa achar os meios mais adequados para lhes limitar os danos. Assim, o mundo tecnológico apresenta-se como algo de enigmático aos nossos olhos, tanto mais que acarreta consigo um estado de crise preocupante. Esta é-o porque não tem paralelo com nenhuma época anterior. A especificidade desta vem-lhe da enorme mudança que a caracteriza.
A resposta à questão do sentido era, normalmente, herdada do ambiente familiar, social ou religioso circundante. Há, pois, uma infinidade de sentidos, desde os primórdios da humanidade até hoje. Exemplo disso são a história das religiões, da filosofia e da literatura. E mesmo da arte. Hoje não é assim.


Perante as diversas vagas de sentido, que chegam até a contradizer-se, surge a inevitável pergunta se não haverá um verdadeiro sentido que acabe por se impor? Pode surge a postura que reconhece o homem sedento de absoluto, que não se realiza nesta vida, sem contudo negar a possibilidade de vir a realizar-se. Perante a morte, a radicalidade do problema humano faz emergir na consciência a aspiração que o habita: realizar-se infinitamente. «Queria era sentir-me ligado a um destino extrabiológico, a uma vida que não acabasse com a última pancada do coração»(Miguel Torga).
A partir da morte pode reconhecer-se, também, a impotência do homem para construir sozinho a sua realização. «O homem é um animal compartilhante. Necessita de sentir as pancadas do coração sincronizadas com as doutros corações, mesmo que sejam corações oceânicos, insensíveis a mágoas de gente. Embora oco de sentido, o rufar dos tambores ajuda a caminhar. Era um parceiro de vida que eu precisava agora, oco tambor que fosse, com o qual acertasse o passo da inquietação»(Miguel Torga). É aqui se abrem duas hipóteses: ou o homem reconhece que a vida terrena — projecto e aspiração a ser mais — tem sentido e abre a possibilidade da esperança de um futuro transcendente; ou aceita que a vida não tem sentido e é o desespero total.
A descoberta do sentido para a vida, integrando o sentido da morte, revela a precariedade e a finitude de uma vida sobre a qual assenta o desejo de absoluto que se espera. É a descoberta da liberdade ansiada, aquela que se tem devido a uma liberdade transcendente. O desejo de liberdade infinita do homem dá lugar à descoberta da condição de possibilidade da liberdade humana: Deus. A realização humana surge a partir do ser pessoa, da relação.
Mas o sentido é um dom, oferecido pelo mistério do Verbo encarnado. «Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente. […] Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a vocação sublime»(GS 22). O mistério do homem revela-se através do mistério de Cristo, chamado a participar da sua filiação. Quando o homem descobre que é amado pelo Pai, em Cristo e através do Espírito, revela-se a si mesmo, descobre a grandeza de ser objecto da benignidade divina, receptor do amor do Pai revelado em Cristo. O mistério trinitário é o único capaz de realizar o homem, é o «mistério iluminador» do sentido (René Latourelle). A expressão desse mistério faz-se pela vivência da comunhão, onde o ser «não sem os outros» (Michael de Certaux) impele para a solidariedade e para o diálogo. Miguel Torga escreve que «a Bíblia, o livro dos livros, nos ensina que não há homem sem homem, e que o próprio Cristo teve, a caminho do Calvário, a fortuna dum cireneu para o aliviar do peso da cruz (a dor incurável da solidão). Para mim, pelo menos — continua Torga —, feito dum barro tão frágil e vulnerável, que necessito de ser amado durante a vida e de acalentar a esperança de continuar a sê-lo depois da morte».


Jesus Cristo, através da sua vida e pregação, é o mediador do sentido, o único intérprete dos problemas humanos. Em Cristo, o homem pode compreender, realizar e superar-se continuamente; pode ver, por fim, realizada a sua identidade. O ser insaciado, sacia-se.
Falar do homem é falar de comunicação, já que o ser humano não pode passar sem comunicar; partilhando com o outro as suas intuições, verifica a sua validade. É este exercício que impele o homem para uma vida comunitária.

À teologia cabe o «estudo sobre Deus», de um Deus que quer estar em relação estreita com o homem: por isso, as questões deste devem ser tidas em conta por aquela ciência, em ordem a uma oferta de alternativas válidas, dialogadas com as categorias de pensamento usadas pelo homem contemporâneo.
Deus, numa relação de amor salvífico com o homem, sai do Seu mistério, revelando-se. O homem, convertendo-se, responde com a fé à verdade transformadora. Por isso, continua a ser tarefa prioritária dizer, hoje, a Revelação.

A Palavra de Deus apresenta-se, no Antigo Testamento, sob muitos aspectos, mas mantém a característica de ser uma palavra que, simultaneamente, revela e esconde: não se deixa reduzir a simples significados verbais. No Novo Testamento, esvai-se a diferença de níveis de comunicação entre Deus e o homem, provenientes das diferentes naturezas. Jesus Cristo possibilita o encontro face-a-face de Deus com o homem, numa comunicação em que o emissor e o receptor se situam nas mesmas coordenadas de espaço e de tempo. Assim, Cristo é o comunicador perfeito, «na medida em que nele encontramos concentrada e realizada a imagem da possibilidade de realização da comunicação ideal» (M. Carnicella), expressão da totalidade, sem lugar para equívocos.

«Sabendo Jesus que chegara a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele que amara os Seus que estavam no mundo, levou até ao extremo o Seu amor por Eles»(Jo13 , 1). E o auge da doação: «a palavra articulada faz-se palavra imolada» (René Latourelle). Na Cruz, Jesus Cristo mostra o amor de Deus aos homens; a palavra de Deus esgota-se até ao silêncio. A hora da morte e do silêncio é a suprema expressão do amor oferecido à humanidade. Aquilo que na comunicação divina é incomunicável diz-se agora com os braços estendidos e o corpo dilacerado.


No acontecimento ressurreição — onde a humanidade de Cristo se torna veículo para a expressão e manifestação da Sua divindade —, Cristo ratifica-se como código e como chave interpretativa do código que permite penetrar a mensagem divina sem equívocos.
Face a Cristo, o «comunicador perfeito», subsistem ainda ruídos, provenientes do homem, da sua mesquinhez, do medo e da incapacidade para se interrogar. A comunicação perfeita só se realiza num contexto escatológico, onde o ruído é anulado e o homem entra em comunhão perfeita com Deus, num perpétuo e sempre novo diálogo.


À luz deste acontecimento, a relação entre o homem e Deus é, pois, reflexo do diálogo trinitário, gerador de comunhão amorosa, na qual o homem é chamado a participar. Apesar da dificuldade do cidadão hodierno — fechado sobre si e incapaz de se situar perante o dom —, é preciso continuar a anunciar o Deus que se fez homem e que diviniza a humanidade pela comunicação do seu ser pessoal.
Dizer esta notícia, com honras de primeira página, obriga a descobrir, em conjunto com os vários saberes, outros métodos de comunicar, que integrem a fé e evitem o absurdo. Processo capaz de ser realizado por aqueles que falam como se vissem o invisível, sempre em busca de novos métodos de contar a verdade, marcados sempre pelo imprevisível.
Nesta dinâmica, o cidadão «acabará por sentir, no mais íntimo da sua humanidade, o apelo duma Proposta transcendente, que foi por vezes rejeitada enquanto expressa em paradigmas ultrapassados, mas que surge agora, nova e disponível, para a reinvenção do futuro»(Luís Archer). De um futuro com um Deus tão transcendente que não se deixa reduzir a simples verbalizações que aprisionam, mas tão próximo que chama cada homem, do âmago de uma nova cultura, a uma comunicação libertadora.
A fé, deste modo,  não só dialoga com as diversas culturas como é capaz de gerar uma nova cultura.
[* Este texto é o resultado de uma releitura de outros postes e ideias já expressas neste blogue, a propósito do 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais]

Maturidade de Fé

A educação da fé procura, pela interação entre a graça divina e a ação humana, a profissão de fé viva, explícita e atuante (DGC 66). O que é o mesmo que fizer uma fé adultae responsável.
A vida adulta é entendida muitas vezes como uma fase de estabilidade, pelo que essa estabilidade é, ela mesma, uma característica de maturidade.  

Um adulto é alguém que já fez uma primeira unificação da sua personalidade. Todas as dimensões da sua personalidade estão harmoniosamente interligadas. Um cristão adulto faz esta harmonização a partir da sua decisão livre de aderir a Jesus Cristo, pela fé. Esta conversão compromete livremente a cada pessoa que vai adequando a sua conduta na direção daquilo que vai descobrindo como vontade de Deus. A vida do cristão adulto não é fruto de um determinismo circunstancial, mas sim de um permanente exercício de liberdade. Escolher, em cada caso, de acordo com a vontade de Deus implica o manuseamento de muitas variáveis. Este exercício de discernimento é fruto e gerador de uma personalidade crente equilibrada e madura.

A liberdade e entrega do adulto, geradores de profundas convicções, leva-o a viver com estabilidade, e não ao sabor dos acontecimentos. A coerência cristã deriva das profundas convicções evangélicas que dão forma a uma fé adulta.
Embora o Cristianismo não se reduza a uma mensagem ou a um conjunto de conhecimentos, o adulto assimilou uma estrutura de conteúdos de fé capaz de dar consistência às atitudes e aos comportamentos.
Este maturidade é fruto de um itinerário de crescimento, já realizado, no seio de uma comunidade cristã, acompanhado por um catequista, e onde a sua vida pessoal foi e é relida à luz do Acontecimento pascal de Jesus Cristo.

O adulto é, por fim, responsável e sabe-se consciente por todas as dimensões da sua vida e atitudes, pelo que o seu assumir da vida cristã implica a vivência de uma vocação. A vocação faz de cada cristão responsável por um projeto de vida, fiel à sua identidade de filho de Deus. Este compromisso deriva da sua identificação com o ser e a missão da Igreja, que se traduz no cumprimento da sua responsabilidade eclesial na circunstância e condição a que o Senhor o chamou.
Como membro de uma comunidade, o cristão vive em Igreja, comprometido com o Reino de Deus: é um ser socializado. Por isso, é capaz de estar inserido no mundo, nos diversos âmbitos – família, cultura, economia, política e outras –, como seguidor de Jesus Cristo, colaborando com todas as pessoas para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
Esta maturidade consegue-se mantem-se através de uma espiritualidade mistagógica, onde cada crente  «aprofunda mais o mistério pascal e procura traduzi-lo cada vez mais na vida pela meditação do evangelho, pela participação na Eucaristia e pelo exercício da caridade» (RICA 37).


O adulto é também aquele que vive adaptado à realidade que o circunda e às suas próprias capacidades. Esta tomada de consciência dá ao cristão adulto uma convicção firme da sua humildade, que não é falso comodismo, mas sim o assumir que só com a graça de Deus é capaz de viver a sua fé, fiel e livremente.
Sabe-se criatura diante do Criador, filho de Deus Pai. Reconhece que só em Cristo pode obter a salvação e que a sua santificação é resultado da ação do Espírito Santo.
Esta relação com Deus dá ao crente a capacidade de perceber a sua própria vida e a história da humanidade integradas na realização de um projeto que não é seu, mas de Deus. É a referência a este projeto que vai dando sentido e significado aos acontecimentos, mesmo aqueles que parecem negativos podem ser assumidos à luz desta visão mais ampla.
É também à luz deste projeto amplo e global, que tem Deus como origem e meta, que o adulto encontra resposta e sentido para as grandes perguntas existenciais que reiteradamente atormentam o ser humano.

As redes sociais e a Evangelização

A sociedade em rede torna-se possível graças ao desenvolvimento das tecnologias digitais, que tendem a permitir a conexão entre todas as pessoas. Basta, para isso, que se possua um dispositivo electrónico com ligação à Internet. Esta realidade abrangente deu origem àquilo que podemos denominar por “cultura digital”, que surge das relações entre as pessoas, e destas com o meio ambiente e o mundo, mas mediada pelas tecnologias de comunicação digital. Esta recente possibilidade de comunicação deu origem a esta nova cultura, com tudo o que isso implica. E, aqui, o tempo e o espaço têm uma nova compreensão, derivada do facto de a sociedade em rede ser virtualmente desterritorializada. O espaço é condensado num só “aqui” e o tempo, por isso, anulado.



Este dado gera especificidades que importa considerar, a começar pelo conceito de virtual. O virtual — no pensamento de Pierre Lévy — não é uma oposição ao real, é uma dimensão muito importante da realidade, porque o virtual é aquilo que existe, não em ato, mas em potência. Opõe-se não ao real, mas sim ao atual, pois o virtual tende a atualizar-se. Por outro lado, há que considerar a distinção entre possível e virtual. O possívelestá todo constituído, só ainda não está realizado. E realiza-se sem que nada o mude ou afete, pelo que o possível é exatamente como o real, só lhe falta existência. Não há nenhum processo de criação, porque não há nenhuma inovação. Já com o virtual não é assim, contrariamente ao possível, ao atualizar-se dá-se, de certa maneira, uma recriação que surge através de uma configuração dinâmica de forças e finalidades, no aqui e agora da atualização. A atualização cria algo de novo! De forma sintética, podemos afirmar que a utilização de redes sociais digitais no âmbito da evangelização postula que não se fique na virtualização, mas que cuide também a atualização, no aqui e agora de cada comunidade cristã.
Depois do que acima vimos, podemos afirmar que o recurso às redes sociais para difundir a Mensagem de Jesus Cristo tem de ser criteriosa. Não basta colocar na Internet informações, é preciso que a virtualização da nossa presença seja acompanhada de comunidades e de evangelizadores que auxiliem cada cibernauta a atualizar no seu aqui e agora a Mensagem, promovendo uma experiência de fé autêntica, que possa tornar viva a relação crente.
Esta interação entre o virtual e o atual deve ainda ter bem presente que a verdade que se anuncia não deduz a sua validade dos critérios de popularidade e da quantidade de atenção que se lhe dá, o fundamento é Outro. Por isso, deve comunicar-se a Mensagem cristã na sua integralidade e exigência, e não ceder à tentação de a mitigar, para a tornar supostamente mais atraente. Tanto mais que o Evangelho não é um mero bem de consumo superficial, antes exige uma resposta ponderada, que só no 
demorado silêncio pode ser conseguida.


Por fim, o grande desafio que se coloca à evangelização com o recurso às redes sociais é o mesmo que o Beato João Paulo II lançou e que Bento XVI recordou ao constituir o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização: «É urgente, sem dúvida, refazer em toda a parte o tecido cristão da sociedade humana. Mas, a condição é a de se refazer o tecido cristão das próprias comunidades eclesiais» (ChL 34). E é aqui que o desejo de comunicar e de estar conectado, muito próprio da cultura digital, pode ajudar as comunidades a reanimarem o seu sentido de pertença eclesial.
 in Semanário Ecclesia, 1382, 2 de Maio de 2013, 32-33.

Linguagem parabólica

De entre os problemas que hoje se põe à fé, a linguagem ocupa um papel de destaque. Quando nos exprimimos, corremos o risco de não sermos compreendidos: há algo que não funciona.
Para falarmos acerca da transcendência apenas nos podemos apoiar naquilo que lhe é secundário e subsequente (Karl Rahner). Com a linguagem parabólica dá-se um contributo importante para que a experiência religiosa não fique sem voz. Esta permite que as palavras sejam utilizadas de uma nova maneira, que expressem algo de diferente. Não reproduzem apenas o objecto mas, acima de tudo, representam uma descrição criadora da realidade. Dão algo mais à realidade física que esta não possui. Diz do mundo físico mais do que aquilo que é.


Se por um lado a experiência religiosaultrapassa a pura inteligência e compromete a vontade, por outro é razoável. A racionalidade verdadeira não reprime a analogia, alimenta-se dela ao mesmo tempo que a controla.
Visto que Deus não é uma realidade do nosso mundo, em face de um termo estrangeiro, poderíamos dizer que este perdeu o significado. Mas não, na linguagem parabólica as palavras são elevadas.  Isto porque as palavras humanas e as divinas, da Revelação, se fundem. Sem que as divinas deixem de o ser e as humanas percam o seu significado.
Se observarmos os resultados da filosofia da linguagem e tomarmos a sério a força criadora da linguagem, que não se limita a reproduzir a realidade da nossa experiência quotidiana, mas que projeta o conjunto da realidade e a dimensão religiosa e a partir daí é capaz de chegar, mediante as metáforas, a uma nova realidade criadora e a expressar o novo, então encontramos a doutrina da analogia,que vem a ser a doutrina da linguagem da fé (Walter Kasper).

Com isto não negamos a transcendência de Deus. Pois a linguagem sobre Ele deve ser capaz de mostrar ao mesmo tempo a distância e a proximidade – aproxima Deus por via  analógica e, ao mesmo tempo, também criam distâncias. Entre Deus e o homem existe um abismo que o próprio Deus transcende ao dar, justamente com as imagens, a Sua presença. Deus é o totalmente Outro.
A doutrina da analogia nasceu da ambição de abraçar numa única doutrina a relação horizontal das categorias com a substância e a relação vertical das coisas criadas com o Criador. A analogia, com efeito, 

«move-se ao nível dos nomes e dos predicados; ela é de ordem conceptual. Mas a sua condição de possibilidade está noutro lugar, na própria comunicação do ser. A participação é o nome genérico dado ao conjunto das soluções trazidas a este problema. Participar é, de um modo aproximativo, ter parcialmente o que o outro possui ou é plenamente»(Paul Ricouer).

 Ricouer acrescenta mais à frente: 

«no jogo do Dizer e do Ser, quando o próprio Dizer está a ponto de sucumbir ao silêncio, sob o peso da heterogeneidade do ser e dos seres, o próprio Ser relança o Dizer, em virtude das continuidades subterrâneas que conferem ao dizer uma extensão analógica das suas significações. Mas, no mesmo lance, analogia e participação são colocadas numa relação de espelho, correspondendo-se exactamente unidade conceptual e unidade real».

Em resumo, podemos ver que a metáfora dá algo mais à linguagem que a realidade física não possui. Nomeadamente na experiência religiosa. Assim a palavra Deus expressa a realidade de tal modo que faz brilhar no mundo “algo” que é mais que o mundo. A linguagem sobre Deus converte o mundo em metáfora de Deus. É um chamamento a contemplar o mundo como metáfora e as suas indicações, ou seja, a mudar o modo de pensar, crer e esperar. A analogia faz ver outro Mundo, outro Espaço e outra Vida.

Para acabar com os pobres

Já viste, Amigo!, se eu, o que tenho, te desse.
E tu, o que te dou, acolhesses.
E do que seria teu a outro oferecesses.
E esse outro o que eu e tu fizemos fizesse…
Assim, Amigo!, não iria sozinho.
Iriamos eu, tu e o teu vizinho,
E tantos mais que desejassem caminhar.
Só porque, a determinado momento, te decidi ajudar.
Não por acaso, Amigo!, mas porque necessitavas.
Porque eu também fui pobre e alguém me ajudou.
E se eu te ajudava e tu não caminhavas,
Quantos pobres ficariam por caminhar.
E eu continuaria rico ou como sou
E os pobres ficariam pobres e por ajudar.
                               Gualter Cruz
                                   12.5.96

Metáfora

O homem é, por si, um ser sociável. Precisa dos semelhantes para se realizar. Para entrar em contacto com eles usa a linguagem, a fim de comunicar as suas experiências. Mas o universo das experiências leva-nos à beira do mistério último não susceptível da experiência direta, apenas indireta em, com e sob a nossa experiência quotidiana. Mas quando tentamos descrever este mistério falta-nos a linguagem. A experiência tem uma última dimensão inefável.
O homem, espontaneamente, relaciona as coisas entre si por imagens, comparações e símbolos. Com estes pretende exprimir as suas experiências e a sua situação no mundo.
A importância da analogia, ou pensamento analógico, vem do facto de se chegar a alguma coisa geral, por indução, a partir de coisas particulares e semelhantes. Na analogia estão presentes a unidade e a pluralidade, a identidade e a diferença. Como se vê possui uma estrutura dialéctica.
A analogia fundamental, em que todas se apoiam, é a analogia entis. A inteligência humana está aberta ao infinito. Na afirmação do particular inquieta-se, pois reconhece nele o infinito. É pela existência do finito que reconhece a existência do infinito, mas nota-se que são de maneira diferente e, ao mesmo tempo, não tão diferentes. Se assim não fosse não poderiam estar presentes no mesmo conhecimento: o conhecimento humano.

«Metamorfizar corretamente é ver – contemplar, ter olhar para – o semelhante. A epífora é este olhar e este lance de génio: o não ensinável, o não adquirível» (Paul Ricoeur).

«A metáfora é por excelência um tropo por semelhança». É esta que revela «a estrutura lógica do ‘semelhante’, porque, no enunciado metafórico, o semelhante é apercebido  apesar da diferença, apesar da contradição». É esta a estrutura lógica que dá vida à metáfora, que lança «o impulso da imaginação num ‘pensar mais’ ao nível do conceito», pois «as significações não são fórmulas estáveis mas dotadas de uma capacidade e de um dinamismo, que lhes permitem servir outros referentes e cooperar na inovação semântica».

A metáfora é considerada como uma forma de analogia. E o conhecimento por analogia é um conhecimento do semelhante pelo semelhante que detecta, utiliza, produz similitudes de maneira a identificar os objetos ou fenómenos que percebe ou concebe.
Para se verificar um pensamento o mais exato possível deve haver uma ideia dominante, alguma coisa que corresponda à característica principal do objecto e que dê unidade ao que é vário e disperso.
Em suma, nos conceitos análogos, apesar de existir diferenças, há também um enlace que possibilita o emprego das palavras com sentido e significado. A linguagem analógica ocupa o lugar intermédio entre o equívoco e o unívoco e expressa uma semelhança que inclui a igualdade na diferença. É uma semelhança de relações.