Uma Igreja que acolhe a todos – VI

A pessoa com deficiência tem direito a experimentar na sua vida o olhar sanador de Jesus Cristo, que é sempre nova, plenificadora e cheia de esperança. Esta valorização radical com que Jesus dignificava vai muito para além da simples capacidade, da utilidade, das possibilidades sociais que uma pessoa pode ter ou dos coeficientes intelectuais que possua. A força libertadora de Cristo manifesta-se sobretudo na Sua Páscoa. Escutemos o número 616 do Catecismo da Igreja Católica:

É o «amor até ao fim»  que confere ao sacrifício de Cristo o valor de redenção e reparação, de expiação e satisfação. Ele conheceu-nos e amou-nos a todos no oferecimento da sua vida. «O amor de Cristo nos pressiona, ao pensarmos que um só morreu por todos e que todos, portanto, morreram» (2 Cor 5, 14). Nenhum homem, ainda que fosse o mais santo, estava em condições de tornar sobre si os pecados de todos os homens e de se oferecer em sacrifício por todos. A existência, em Cristo, da pessoa divina do Filho, que ultrapassa e ao mesmo tempo abrange todas as pessoas humanas e O constitui cabeça de toda a humanidade, é que torna possível o seu sacrifício redentor por todos. (CCE 616)

A debilidade humana adquire, em Cristo, um novo rosto. Ele cura-nos da ideia, infelizmente tão difundida, de que o sofrimento, a dor e demais limitações do ser humano, são um castigo. Em Cristo, sabemos que os nosso sofrimentos têm um sentido. Mais, fugir do sofrimento ou negá-lo nunca será fonte de alegria. É, e nunca deixará de ser uma ilusão. Com tudo o que isso acarreta.
Assumindo a verdade da nossa condição de seres humanos, criados e amados por Deus, estamos em melhores condições para perceber que o sentido é um dom, oferecido pelo mistério do Verbo encarnado. «Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente. […] Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a vocação sublime»(GS 22). O mistério do ser humano revela-se através do mistério de Cristo, chamado a participar da sua filiação. Quando  cada pessoa se descobre que é amado pelo Pai, em Cristo e através do Espírito, revela-se a si mesmo, descobre a grandeza de ser objecto da benignidade divina, receptor do amor do Pai revelado em Cristo. O mistério trinitário é o único capaz de realizar o homem, é o “mistério iluminador” do sentido. A expressão desse mistério faz-se pela vivência da comunhão, que se experimenta na participação comunitária.
Jesus Cristo, através da sua vida e pregação, é o mediador do sentido, o único intérprete dos problemas humanos. Em Cristo, o ser humano pode compreender, realizar e superar-se continuamente.
É esta certeza, com sabor a Boa Nova, que torna cada vez mais compreensível o desejo de Deus de libertar cada pessoa das suas angústias, dos medos, da culpabilidade, da desvalorização. E ensina-nos a abrir de forma sempre nova o nosso coração ao homem ferido, na proximidade compassiva, na escuta, na valorização mais profunda de tudo o que é, no desejo de que se desenvolva e alcance a sua plenitude». Cada pessoa, que sente em si a debilidade, tem o direito de descobrir na sua vida o olhar originar de Jesus, a sentir-se reconhecido nela e a experimentar o seu sabor.

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