Avaliar para projectar a Pastoral

Texto do Sr. D. Jorge Ortiga para os trabalhos do Conselho Pastoral Arquidiocesano. [o sublinhado é meu]

Permiti que inicie este encontro do Conselho Pastoral com as palavras do grande teólogo Karl Rahner:

As pessoas já não serão cristãs pela simples força do hábito, da tradição, da história ou da ordem estabelecida. Ainda menos, pelo facto da fé impregnar universalmente a sociedade. Pelo contrário, se exceptuarmos a influência exercida pelos pais cristãos, o ambiente familiar ou os pequenos grupos restritos, as pessoas já não serão capazes de ser cristãs, se não for graças a uma fé verdadeiramente pessoal que sem cessar deverão fazer crescer. A Igreja terá entrado, pela vontade do Senhor, Mestre da história, num tempo novo. Em todos os domínios ficará reduzida às únicas forças da fé e da santidade: não poderá contar quase nada com o prestígio de uma instituição puramente exterior. Não será já a instituição a formar os corações, mas sim os corações a fazer subsistir a instituição.”

Vivemos tempos novos. É um facto. Tempos que exigem atitudes renovadas pela força do Espírito Santo que nos impele a sair do Pátio de Jerusalém para o Pátio dos Gentios, Pátio do Encontro. Esta responsabilidade missionária recorda-nos essencialmente a novidade da transmissão da fé pelo testemunho pessoal do encontro transfigurante com Cristo. A Pastoral nunca poderá ser repetitiva, uma espécie de fotocópia com alterações de circunstância litúrgica ou canónica, mas deve sim reflectir a sua adequação à mudança dos tempos na fidelidade à memória cristã.
Definitivamente, e é preciso dizê-lo de forma clara, já não estamos em tempo de cristandade, de agirmos segundo critérios e opiniões meramente pessoais. Sem darmos conta caímos facilmente no relativismo eclesial, em que cada um faz dos seus gostos pessoais critério absoluto de toda a pastoral. O que de si é já um paradoxo que S. Paulo denuncia: “Quando, pois, vos reunis, não é a ceia do Senhor que comeis, pois cada um se apressa a tomar a sua própria ceia […] Por isso, meus irmãos, quando vos reunir para comer, esperai uns pelos outros” (1Cor 20.33).
A abertura aos novos tempos também não pode significar um apego acrítico e sem consistência. Significa, pelo contrário, duas atitudes constitutivas de um novo agir eclesial: a necessidade permanente de avaliar e a serenidade ousada de projectar o futuro. Não podemos ter medo de avaliar. É fácil elaborar Planos Pastorais, difícil é pararmos para reflectir o caminho andado e aceitar as deficiências e a responsabilidade por não ter atingido os objectivos.
Infelizmente constato que há comunidades que não só não se deixaram interpelar pelos objectivos propostos porque nunca ouviram falar das propostas diocesanas. Interrogo-me também se os nossos movimentos conseguem articular a peculiaridade do seu carisma com as orientações diocesanas? Se os Institutos Religiosos conseguem situar-se no nosso contexto enriquecendo-o com as suas potencialidades? Não quero formular nenhum juízo nem muito menos condenar alguém. Na sinceridade que preocupa um responsável pela Arquidiocese, só pretendo suscitar uma avaliação que manifeste verdadeira corresponsabilidade eclesial nos resultados que os três anos destinados à Palavra deixaram ou não na vida dos crentes e das comunidades cristãs.
Se avaliar exige frontalidade, o Conselho Arquidiocesano de Pastoral não pode eximir-se à responsabilidade de ver o futuro e projectar um itinerário que consolide as opções pastorais já delineadas no sentido de determinar uma evangelização capaz de congregar os cristãos em torno do anúncio da Boa-Nova do Reino. Todos sonhamos com uma Igreja renovada através de comunidades renovadas. Mas é preciso pensar primeiramente que Igreja somos e que queremos ser? Como vivemos a dimensão comunitária e pessoal da fé? Como acolhemos o “mistério” da revelação de Deus? Será que a secularização da sociedade secularizou a vida dos sacerdotes e dos leigos deixando-nos a mercê do sabor dos ventos da moda e do materialismo vazio? Como podemos continuar a falar do sentido de Deus se vivemos uma fé sem sentido nem assentimento? O tempo actual está ávido da esperança de Deus, que é fonte de toda a sabedoria e de toda a beleza.
Demos graças a Deus pela Igreja que somos e não fechemos o coração a Cristo que continua a bater no coração de cada pessoa. O Mestre quer entrar e cear connosco numa comunhão festiva que congregue a todos. Na alegria de fazermos festa não posso deixar de pedir às comunidades uma maior atenção às orientações económico-sociais de muitas famílias, à real situação de solidão em que muitos irmãos vivem, à perplexidade que caracteriza o presente de muita gente e se agrava num horizonte que parece não ter saída. O caminho da Igreja é dizer bem alto que há sentido na vida a partir de Deus.
Que o trabalho deste Conselho Pastoral, reunido para avaliar o caminho realizado até aqui e para pensar no amanhã, contribua para a renovação e para o fortalecimento da comunhão da Igreja bracarense.
Centro Cultural, 26-02-11
Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz



Link’s Americanos

No último Conselho Pastoral Arquidiocesano, aqui em Braga, o Secretário Geral sugeriu uns link’s interessantes com apoios para a acção pastoral.

Partilho-os aqui, também.

https://www.wholecommunitycatechesis.com/

https://www.wholecommunitycatechesis.com/pages/questions.html

https://your.harcourtreligion.com/lifelong_catechesis/

https://your.harcourtreligion.com/lifelong_catechesis/families_activity_22.jsp

https://your.harcourtreligion.com/lifelong_catechesis/families_qow_22.jsp

https://www.webelieveweb.com/

https://www.creemosweb.com/gather.cfm

https://www.creemosweb.com/gather.cfm?page=archive

Intuições de Paulo para a Pastoral

Neste Ano Paulino, colo aqui um texto que veio na Ecclesia, mas que é de uma profundidade e densidade digna de registo. Para mais, é da autoria de um evangelizador exímio: D. António Couto!

As grandes intuições, que o Apóstolo Paulo nos deixa, para uma verdadeira arte pastoral, perante a urgência de uma nova evangelização.

Assim:

1. Aprendemos de Paulo a sermos primeiramente “de Cristo”, “agarrados por Ele” ensinados por Ele, tendidos para a frente e estendidos para Ele, como recebedores da sua graça, como se em tudo o que somos e fazermos, vivêssemos permanentemente «agrafados a Ele», até nos tornarmos seus imitadores.

2. Aprendemos de Paulo a sermos homens de uma só coisa, a tempo inteiro, concentrados e orientados completamente para Cristo, “como uma seta directa a uma meta, a um alvo, a um objectivo tão intenso e claro, que na vida de cada um só poder haver um”. Hão-de ser as coisas de Deus e as coisas da comunidade a merecer o nosso zelo pastoral.

3. Aprendemos de Paulo, que somos o que somos, pela graça de Deus e que o nosso apostolado decorre dessa graça, que é, para nós, como para o Apóstolo, a verdadeira nascente da vida quotidiana. Há-de dizer-se de nós, como de Paulo, que “a sua vida privada era a apostólica”. Somos chamados a levar, por diante, uma evangelização vivida e afectiva, personalizada e a tempo inteiro e até ao fim.

4. Aprendemos de Paulo que a evangelização deve começar, não tanto por apresentar ideias, mas por proporcionar encontros, de modo a facilitar “o encontro” das pessoas com Cristo, como base da identidade e da missão de cada cristão, num mundo paganizado, insensibilizado, de braços caídos, ao qual é preciso levar o lume de Cristo!

5. Aprendemos de Paulo a correr mais por dentro, e não “a correr por fora”, “a correr agarrados, numa mão a Cristo e noutra apertando a de um irmão e outro irmão, como uma verdadeira multidão em comunhão”. Cristo há-de ser aquele que a todos une, que a todos nos hifeniza, isto é, que a todos nos liga, em rede de comunhão. Importa despertar e formar a consciência de todos os membros da Igreja, para que se sintam verdadeiramente “comunidade dos chamados”, grupo dos escolhidos por Deus e que respondem ao seu chamamento.

6. Aprendemos de Paulo que ninguém evangeliza sozinho, decorrendo daí a absoluta necessidade de chamar, apoiar e formar muitos e bons cooperadores, com uma metodologia de evangelização, assente numa relação personalizada, íntima e calorosa, coração a coração. O título de cooperadores mostra que no trabalho de evangelização não há trabalhadores solitários, por conta própria.

7. Aprendemos de Paulo a dar testemunho de Cristo, com uma dedicação maternal e paternal, a cada um e a tempo inteiro, “gerando” filhos, dando-os à luz na dor, acalentando-os, exortando-os um a um, portanto, com tempo e total dedicação, persistência, paciência e zelo.

8. Aprendemos de Paulo, que as nossas relações pessoais e pastorais hão-de ser sempre quadrilaterais: cada um evangeliza sempre com os outros, está ao serviço de uma comunidade, como servidor da sua alegria, e todos estão unidos pelo mesmo amor de Cristo, que ama e chama cada um. “Cooperadores precisam-se, para formar uma rede de evangelizadores. Já ouvistes chamar pelo teu nome”?!

9. Aprendemos de Paulo que a missão é «obra da graça» e «trabalho de amor» e que este trabalho, não se faz sem luta! Trabalhamos e lutamos, ou trabalhamos lutando, esperando também do Povo de Deus, que “lute connosco, nas orações”!

10. Aprendemos de Paulo a valorizar a «casa» e a família, como lugar e protagonista da evangelização, aprendendo, daí, a construir também a «casa da Igreja», como novo espaço relacional, verdadeira família de Deus. Em conclusão, sabemos que o nosso serviço de evangelização já não pode consistir simplesmente em evangelizar o outro, até um certo ponto (até ser crismado, por exemplo) mas em evangelizá-lo, até que ele, enamorado de Cristo, sinta a necessidade de se constituir em evangelizador.