A Catequese é um acto humano

O momento eclesial que estamos a viver, por muitos denominado de Primavera da Palavra, como a constatação de que os cristãos e as comunidades estão cada vez mais conscientes do lugar da Palavra de Deus e da necessidade que como cristãos temos dela.
Vem a este propósito referir a Constituição Dei Verbum, sobre a Revelação Divina, que é o documento do Concílio Ecuménico Vaticano II onde se aborda o tema da Revelação e da Palavra de Deus de uma forma fabulosa. É interessante ver como passados tantos anos, 44, estes continuam a ser actuais e a dar pistas excepcionais para a nossa reflexão pastoral.
Aliás, seria no mínimo um contra-senso que nós, catequistas, vocacionados para sermos servidores da Palavra de Deus não tivéssemos a Dei Verbum com um documento de visita frequente.
E quando nos propomos abordar as relações humanas na catequese, isso vai acontecer.

Deus fala como um amigo

Nesse documento, no número 2, diz-se que, e o sublinhado é nosso:
“Aprouve a Deus, na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cfr. Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cfr. Ef. 2,18; 2 Ped. 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível (cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Ex. 33, 11; Jo. 15,1415) e convive com eles (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele. Esta «economia» da revelação realiza-se por meio de acções e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido” (DV 2).
Assim sendo, em catequese a relação interpessoal deve ser tida em conta e reflectida. O diálogo é o elemento mais significativo mediante o qual se desenvolvem as relações humanas e, no nosso caso, a proposta de suscitar a fé. A linguagem desse diálogo revela o tipo de relação que existe e, portanto, o tipo de catequese que procuramos.

Podem-se distinguir três níveis de diálogo

1) O palavreado. É a forma mais superficial do diálogo. Consiste em falar de qualquer coisa, sabendo ou não, sem que ninguém se envolva no que diz. Sucede na catequese quando faltam objectivos precisos ou o grupo não os aceita nem se envolve neles; os catequizandos contentam-se em conversar e trocar opiniões que, ainda que de cunho religioso, não conduzem a parte alguma.
2) A informação de base que proporciona os elementos necessários para investigar, analisar, contrapor e chegar a conclusões claras e objectivas; porém se o grupo se detêm aí, sem se envolver nem se comprometer, não passará ao âmbito da cultura religiosa, ainda que ele seja importante e suponha uma contribuição valiosa para a formação dos catequizandos.
3) A comunicação. Aqui, o diálogo alcança toda intensidade quando não se trata somente de dizer algo, mas de dizer-se a si mesmo. Neste caso, os membros do grupo expressam a ressonância que tem neles a questão proposta; isso requer confiança recíproca para expor o que cada um traz dentro de si e para esperar que os outros façam o mesmo. O intercâmbio grupal não é simples eco do que se pensa, sabe ou diz, mas do que cada um sente, busca e vive. Há comunicação quando cada um expressa sua implicação pessoal naquilo que diz, quando sua expressão é verdadeira e sincera confissão de si mesmo. Nesta fase a catequese alcança seu sentido pleno como lugar no qual o grupo confessa a fé.
A comunicação plena requer, pois, o envolvimento pessoal dos que participam no grupo de catequese e permite ao catequizando fazer uma experiência de participação comunitária.

O catequista é um amigo de Deus

Para que este diálogo aconteça, o catequista tem um papel insubstituível. Aliás, a vocação de catequista, a sua existência na Igreja, é um dom do qual há que dar graças a Deus. O catequista é alguém chamado por Deus, vocacionado; que acredita no Senhor, com uma fé profunda; e consciente do seu ser Igreja, com uma clara identidade eclesial. Ou seja, o seu modo humano de viver está moldado pela sua comunhão com a Trindade.
O catequista participa e prolonga a missão de Jesus como mestre e amigo, pois realiza o mandato do Senhor: “Ide e fazei discípulos”(Mt 28,19). Assim, Jesus Cristo, no seu seguimento e imitação, constitui para o catequista o modelo determinante de toda a sua missão e acção.
Para que a catequese seja significativa, o catequista deve estar enraizado na forma de ensinar de Jesus Cristo que é cativante e atractiva, pelo que deve viver alimentado continuamente do Mistério Pascal de Jesus Cristo, que é o conteúdo fundamental do Evangelho e o núcleo do testemunho da fé.
Porque é chamado a ser educador da fé, o catequista deve possuir, antes de mais, uma profunda vida de fé. Deve estar imbuído de um profundo sentido religioso, com uma experiência madura de fé e um forte sentido de Deus, do divino. Isto porque o catequista deve ser o anunciador de Deus e dizê-Lo no mundo de hoje. Ao dizer a sua fé, está a responder às inquietações mais profundas do coração humano, que é a sede de absoluto que habita em cada homem (Cf DGC 23).
O catequista é, então, alguém consciente da sua fé. Tem uma posição tranquila e serena da sua opção por Cristo, confia n’Ele e vive em docilidade à acção do Espírito Santo. Na sua pessoa verifica-se a interacção entre fé e vida, ou seja, vive uma autêntica experiência de fé, que vai condicionar todo o modo como se relaciona.
Isto significa que o catequista deve ocupar-se da sua própria vida no Espírito como exigência da responsabilidade que lhe outorga a Igreja, catequizar. O catequista experimentará um processo contínuo de amadurecimento na fé e configuração com Cristo, segundo a vontade de Deus Pai, guiado pelo Espírito Santo(Cf ChL 57).

Os amigos vivem na alegria

A alegria e o gozo do anúncio da Palavra e do Evangelho de Jesus Cristo são características próprias do catequista. É precisamente a alegria do catequista, expressa na relação com os outros, como gozosa participação na vida do Espírito, a demonstração mais evidente de que a Boa Nova que anuncia encheu o seu coração.
O catequista pode entrar verdadeiramente na alegria espiritual aproximando-se de Deus e afastando-se do pecado. Sabemos que as capacidades humanas não atingirão, por si só, este objectivo, mas a Revelação pode abrir esta perspectiva e a graça pode operar esta conversão. A alegria cristã é por sua essência uma participação espiritual da alegria insondável – simultaneamente divina e humana – do Coração de Jesus glorificado. Através da oração pode experimentar-se mais profundamente esta grande alegria: cada cristão sabe que vive de Deus e para Deus.

A Igreja é Comunhão – IV

A Igreja procede do Pai pelo Filho no Espírito Santo, sendo aquela obra das missões divinas; “é ela o lugar do encontro entre o céu e a terra, em que a história trinitária, por livre iniciativa de amor, passa para a história dos homens e esta é assumida e transformada no movimento da vida divina”(Bruno Forte).
Mas a Igreja, que é comunhão, só se compreende a partir de factos concretos e visíveis. Para compreender a profundidade teológica da eclesiologia da Igreja comunhão deve-se partir do facto central da vida da Igreja visível, a Eucaristia da Igreja local presidida pelo bispo, rodeada do presbitério, dos diáconos e dos fiéis, não bastando uma simples inscrição ou o pagamento de cotas para que se pertença à Igreja, se faça comunhão. Não há Igreja sem assembleia eucarística. Por isso, a não frequência eucarística é sinal de quebra ou enfraquecimento da comunhão eclesial. A eucaristia, como acto de acção de graças, é a presentificação simbólica sacramental de todo o mistério da salvação. Enquanto communio eucarística, a Igreja é não só imagem da communio trinitária, mas também a sua actualização. Ela não é apenas sinal e meio de salvação, mas também fruto da salvação. Enquanto communio eucarística, é a resposta sobreexcedente à questão humana originária da comunhão.
Esta questão é mediada por símbolos, e são eles que nos reportam para o mistério. A vida religiosa é um sistema de símbolos que actualizam a presença de experiências transcendentes, extraordinárias ou desconcertantes. Qualquer símbolo, seja ou não religioso, tem um atractivo em e por si mesmo. Sem dúvida, ainda que o símbolo possa atrair e até seduzir, não pode obrigar a comunidade a objectivá-lo. Neste contexto, a qualidade da crença — da fé — deve-se considerar como processual. São muitas as contingências que podem afectar a valorização dos símbolos religiosos, entre elas o facto de que, na sociedade contemporânea, as comunidades correntes — intersubjectivas — raramente coincidem com as expectativas da Igreja oficial (problemas que se dão igualmente com o Estado). Existe um divórcio quase permanente entre a ‘criação de símbolos’ da Igreja oficial e o modo como esses símbolos são vividos a nível local e paroquial. Como consequência, a Igreja deve fazer-se a si mesma de muitas formas, cada uma delas representa uma acomodação do símbolo aos destinatários.
O fiéis celebram a eucaristia e fazem esta experiência de comunhão nas suas Igrejas particulares, pois a igreja-comunhão vive-se na totalidade do seu mistério nas Igrejas locais. É aqui que Cristo nos convoca, reúne na comunhão e envia em missão. É aqui que a comunhão se vive entre pessoas que a própria existência faz próximas e solidárias na realização do culto; o símbolo toma um significado social.
A Igreja presente no mundo “é um sinal visível do homem originário reprimido e da libertação da sua capacidade de mistério e de símbolo, que é a condição de possibilidade de culto. A profundidade esquecida do ser humano não é egóide e fechada sobre si mesma mas relacional e foi sobre as relações originárias do homem à natureza, ao seu semelhante e a Deus que incidiu a acção perturbadora da razão com sua vontade de poder”(Miguel Baptista Pereira), dando origem ao estado de crise que hoje vivemos e ao qual a Igreja Comunhão pode ser uma saída viável para esta situação, onde a “Igreja, como morada de transcendência e redil materno do rebanho, deixou de ter o sentido profundo de outrora… Cada qual salva a sua alma na solidão. Como forças colectivas capazes de semear o mundo de catedrais ou de cruzadas, as religiões estão mortas”(Miguel Torga).
Hoje, a crise de pertença eclesial e a recomposição caleidoscópica do religioso que este processo arrasta consigo inscrevem-se na evolução geral das sociedades da Terceira Vaga(Cf Alvin Toffler), caracterizadas pela mobilidade, particularmente pelas mudanças determinadas pelas orientações sócio-económicas, bem como pela atenuação do controle social e a valorização da capacidade de escolha pessoal.
A nova fase que a humanidade atravessa foi já abordada pelo Concílio Ecuménico Vaticano II ao dizer:

“A humanidade vive hoje uma nova fase da sua história, na qual profundas e rápidas transformações se estendem progressivamente a toda a terra. Provocadas pelo inteligência e actividade criadora do homem, elas reincidem sobre o mesmo homem, sobre os seus juízos e desejos individuais e colectivos, sobre os seus modos de pensar e agir, tanto em relação às coisas como às pessoas. De tal modo que podemos já falar de uma verdadeira transformação social e cultural, que se reflecte também na vida religiosa”(GS 4).

Realçando os pontos fundamentais, podemos referir a novidade da situação actual, que acarreta transformações rápidas e profundas em todo o mundo. A origem destas transformações está na actividade criadora humana, na sua capacidade de produzir novos meios e nas consequências que isso acarreta para o próprio sujeito da mudança. Este processo cria uma transformação social e cultural tais que geram novas culturas e modos diferentes de constituir sociedade.

Chegou o verão! Vamos à Festa.

A catequese tem o objectivo de iniciar, progressiva e sistematicamente, à fé cristã. Com o início das férias de Verão, a que está associada uma grande pausa nos encontros de catequese, urge propor actividades para que o grupo se possa encontrar e, o que seria muito salutar, realizar actividades lúdicas.

Esta actividade destina-se a catequizandos e catequistas, que podem optar por fazer a recolha individualmente ou por grupo.
O objectivo é promover que se faça uma leitura crente das festas populares, descobrindo-lhe valores e manifestações cristãs, bem como influência pagã nas manifestações religiosas. Vendo que o Homem que reza e celebra é o mesmo que festeja e realiza arraiais, e nisso não há nada de mal.

Se quiseres, podes ler um autor interessante: Mircea Eliade, nomeadamente a sua obra O Sagrado e o Profano.

Pode recorrer-se a câmaras de vídeo, telemóvel, máquina fotográfica ou outro sistema qualquer, e recolher as imagens da realização sobre que querem reflectir.
Depois, alojam essa imagem no youtube ou outro no género, e ‘embebem-no’ na página wiki criada para o efeito, onde colocam também as vossas reflexões e descrição das descobertas realizadas:
– Repara nas Missas das festas, se há alguma tradição mais pitoresca e o ‘porquê’ de ser assim;
– Olha para as Procissões, para o modo como são aorganizadas, as representações dos figurados, as Confrarias presentes que são reflexo das grandes devoçõpes populares. No fundo as verdades que fé que querem afirmar e expressar, à mistura com costumes e presenças pagãs.
– Por fim o arraial. Repara nas imagens que são invocadas, as letras das músicas cantadas e os costumes aí associados. Sabes, dantes era nestes arraiais que se ‘pediam as moças em namoro’.

No final procura responder à pergunta: A festa pode ser uma boa oportunidade para perceber a fé popular?

Para poder editar a página wiki, é preciso mandar um mail a solicitar.
Criaremos, na wiki, uma página por cada participante, individual ou grupo.
No final do Verão realizaremos um vídeo em conjunto, sintetizando aquilo que fomos descobrindo ao longo do Verão.

Então, vamos à festa?

Padre nega comunhão a deficiente

Espanha: Com síndrome de Down

Um padre negou a primeira comunhão a uma menina de Barcelona alegando que a menor, com síndrome de Down, é “um anjo de Deus” logo, não peca, e portanto não necessita do sacramento divino. Os pais da menor contestam o sacerdote e acusam-no de discriminação.
Tudo começou há três anos, quando a mãe, Lídia, levou a filha Carla e o seu irmão gémeo à Igreja de Sant Martí para começarem a frequentar a catequese. O pároco Josep Lluís Moles recusou a criança porque esta “teria de amadurecer” e poderia “prejudicar o desenvolvimento da catequização”.
Os pais aceitaram a decisão. Um ano mais tarde, levaram novamente Carla para a catequese. Desta feita o padre decidiu fazer depender a primeira comunhão da capacidade da criança: se aprendesse o Pai Nosso em sete meses dar-lhe-ia a primeira comunhão. Só que, meses depois, mudou de ideias, e, quando a mãe foi confirmar a data da cerimónia, referiu que “não era necessário” que a criança comungasse, porque ao “ser um anjo de Deus não é uma pecadora”.
Como o irmão gémeo queria fazer a primeira comunhão na mesma igreja que a irmã, a mãe procurou outro sítio em que a filha pudesse comungar. Mas, segundo ela, o sacerdote garantiu-lhe que interferiria para impedir o acto.
A família encontrou por fim uma igreja em Badalona disposta a dar a primeira comunhão aos dois irmãos gémeos. A cerimónia acontece hoje.
In Correio da Manhã

Como catequistas, como nos posicionamos?

Uma proposta para viver a liturgia

Embora a iniciação à vida litúrgica seja uma tarefa da Catequese, esta tem sentido algumas dificuldades.

Cosnciente disso, e num trabalho motivado por um trabalho académico, elaborei um podcasting.

Queres dar uma vista olhos e dares a tua opinião?

Está aqui.

Ao Ritmo da Liturgia!

Este á uma hipotética acção de formação, com ritmo semanal, que procura ambientar os cristãos para a escuta da Palavra de Deus, na celebração da liturgia de Domingo.
Aqui, poder-se-á escutar o texto do evangelho, ouvir um comentário e realizar alguma actividade que ajude a compreender o texto, relacionando-o com a experiência de vida de cada pessoa.
Esta actividade destina-se, preferencialmente, à população juvenil, dos grupos de jovens das comunidades paroquiais.
Para enquadrar este recurso, convém ter presente que a liturgia cristã, como muitas outras, tem um ritmo semanal e que muitas comunidades marcam o seu ritmo de caminhada pela liturgia. Daí que uma boa preparação da liturgia, facilita a vida da comunidade. Pelo que esta formação foi idealizada para ajudar a população juvenil a viver a celebração do Domingo.

Planificação
Objectivos: – Conhecer as principais ideias do Evangelho do Domingo
– Favorecer a participação na liturgia dominical

Tarefas:

1ª – Cada participante na formação irá fazer o download, ou sincronizar o iTunes, no início da semana, podendo escutar a leitura e o seu comentário num ambiente descontraído, como por exemplo enquanto vai de autocarro, ou então investir um certo tempo só para esta actividade.
2 ª – Posteriormente, cada formando é convidado a pesquisar na internet, na Bíblia ou noutro meio à sua escolha a informação que lhe permita responder a estas questões:
1 – O que significa o mar?
2 – Que simboliza a barca?
3 – Que sentimentos experimentaram os discípulos e que sentimentos experimentas tu, hoje?

As respostas a estas questões deverão ser colocadas nos comentários deste blogue, e moderadas pelo formador.

3ª – A actividade conclui-se com a elaboração, em conjunto, de um cartaz/mural de ambientação à liturgia, onde se recolhem as ideias principais expressas pelo grupo. A realização do cartaz/mural é uma das actividades do encontro semanal..