Elogio da política

Vêm aí as autárquicas. Pela proximidade efectiva com as populações, são, entre todos os actos eleitorais, aquele que gera mais amores e desamores, proximidades e divisões. Desta vez, os habituais ingredientes são condimentados pela novidade da reforma administrativa e consequente mexida com os bairrismos e autonomismos. Por tudo isto, vale a pena uma reflexão, ainda que incipiente. O Ocidente adoptou a noção aristotélica da política como interesse pelo social, como compromisso para com a comum cidade dos homens. E isso diz muito aos cristãos, «mandatados» para a edificação de uma “nova terra e novos céus” e corresponsabilizados perante o seu “próximo”. Nunca o “dar a Deus o que é de Deus” excluiu o “dar a César o que é de César”. O que fez, foi evitar confusões entre estes dois âmbitos, como acontecia no passado e alguns ainda teimam em recuperar no presente.
Mas há muitas formas de fazer política e de se comprometer com ela. Desde as associações cívicas às ONG’s. Sem ignorar, porém, que a forma privilegiada é a via partidária. No actual momento histórico, de facto, os partidos constituem os instrumentos mais habituais para o exercício da «caridade política», entendida como preocupação afincada pelo bem comum. Se são, assim, tão importantes, convém não esquecer algumas implicações. Vejamos. 12 Em primeiríssimo lugar, uma mente crente só pode aderir a partidos que defendam acerrimamente a chamada «constelação de valores» ou «quadrilátero social» de que falava João XXII, antítese de todas as ditaduras: verdade, liberdade, justiça e amor/caridade. O recente Magistério da Igreja ajuntou-lhe mais dois, de absoluta urgência: a defesa da vida humana em todas as fases da sua existência e a protecção da família heterossexual. Depois, há que dar-se conta de que nenhum partido corresponde integralmente às exigências da fé. Por isso, a mesma fé pode conduzir a distintas escolhas. A adesão aos partidos deve ser à base de pressupostos críticos –confrontar o seu programa com o Evangelho- e não por motivos ideológicos.


A noção de «bem comum», objectivo último da política, deve incluir não apenas as coisas materiais, mas também a abertura e orientação para as realidades do espírito, nas quais se insere a dimensão meta-temporal. Finalmente, porque ainda não chegamos àquele estádio em que a opção por famílias partidárias não separe as pessoas nem gere animosidades, o clero e os religiosos são chamados a abster-se, directa e indirectamente, de militar em partidos e de os favorecer ou obstaculizar. Mas devem cumprir, religiosamente, a obrigação de anunciar os princípios e propor os critérios da Doutrina Social da Igreja.
A Conferência Episcopal da América Latina, quando reuniu em Puebla, definiu a política como “uma forma de dar culto ao Deus vivo”. Tal a consideração por esta actividade humana. Então, dignifiquemo-la!

D. Manuel Linda

Colocando poesia na Rede

Uma estupenda oportunidade
para a comunidade de poetas aficionados
disponibilizar poemas na rede
sentir que são celebridade
Nada mais pensa,
nossos pensamentos são lidos
por pessoas a quilômetros de distância
as quais nunca veremos
das quais nunca saberemos
Velhos e experientes
Jovens e entusiasmados
Gente de todo o mundo
de muitos contextos, de vários aspectos
compartilharão sua palavra
Podemos ter rápida retroalimentação
que não teríamos se estivéssemos sozinhos
Quando escrevemos, não sabemos
como responder à pergunta
“É um poema?”, Sim ou não!
Mas quando os divulgamos, se são escolhidos,
estamos certos de que muita gente especializada
irá lê-los e preferi-los,
esse pensamento entusiasma o curacao
Não temos que escrever uma e mais outra vez
para enviar esses poemas
às pessoas próximas e queridas
mas simplesmente dizer-lhes
que procurem na Rede
Podemos aprender a linguagem, o estilo,
o ritmo e os esquemas de ideias
de outros versos
para ativar nossos sentidos.
Uma estupenda oportunidade
para a comunidade de poetas aficionados
colocar poemas na rede
sentir que são celebridade.

Prasanthi Uppalapati

Para acabar com os pobres

Já viste, Amigo!, se eu, o que tenho, te desse.
E tu, o que te dou, acolhesses.
E do que seria teu a outro oferecesses.
E esse outro o que eu e tu fizemos fizesse…
Assim, Amigo!, não iria sozinho.
Iriamos eu, tu e o teu vizinho,
E tantos mais que desejassem caminhar.
Só porque, a determinado momento, te decidi ajudar.
Não por acaso, Amigo!, mas porque necessitavas.
Porque eu também fui pobre e alguém me ajudou.
E se eu te ajudava e tu não caminhavas,
Quantos pobres ficariam por caminhar.
E eu continuaria rico ou como sou
E os pobres ficariam pobres e por ajudar.
                               Gualter Cruz
                                   12.5.96

Mundo e mundos

«Todos nós criamos o mundo à nossa medida. O mundo longo dos longevos e curto dos que partem prematuramente. O mundo simples dos simples e o complexo dos complicados. Criamo-lo na consciência, dando a cada acidente, facto ou comportamento a significação intelectual ou afectiva que a nossa mente ou a nossa sensibilidade consentem. E o certo é que há tantos mundos como criaturas. Luminosos uns, brumosos outros, e todos singulares». 
                   Miguel Torga

Quem…



Quem escuta a quem quando há silencio?
Quem empurra a quem, se um não anda?
Quem recebe mais ao dar-se um beijo?
Quem nos pode dar o que nos falta?
Quem ensina a quem a ser sincero?
Quem se aproxima a quem nos vira as costas?
Quem cuida daquilo que não é nosso?
Quem devolve a quem a confiança?
Quem liberta a quem do sofrimento?
Quem acolhe a quem nesta casa?
Quem enche de luz cada momento?
Quem dá sentido à Palavra?
Quem pinta de azul o Universo?
Quem nos abraça com a sua paciência?
Quem quer somar-se ao pequeno?
Quem mantém intacta a Esperança?
Quem está mais próximo do eterno:
o que pisa firme ou o que não alcança?
Quem se aproxima do bairro mais inseguro
e estende uma mão às suas crianças?
Quem elege a quem de companheiro?
Quem sustém a quem nada tem?
Quem se sente unido ao imperfeito?
Quem não precisa de umas asas?

Luis Guitarra

Ironia pós-moderna!

«O pós-moderno apresenta duas caras: a dissolução do obrigatório no facultativo tem dois efeitos certamente contrapostos, mas estreitamente relacionados entre si. Por um lado, a fúria sectária da auto-afirmação neotribal, o retorno à violência como instrumento principal para construir a ordem, a busca febril de verdades circunscritas que se espera que encham o vazio da ágora deserta. Por outro lado, a negação dos dirigentes da ágora de ontem de julgar, de fazer distinções, de eleger entre diferentes alternativas. Toda a opção está bem, desde que seja uma opção, e toda a ordem é boa desde que seja uma entre várias e não exclua aos outros. A tolerância dos dirigentes nutre-se da intolerância das tribos. A intolerância das tribos robustece-se com a tolerância dos dirigentes».
(Zygmunt Bauman, La sfide dell’etica, ed. Feltrinelli, Milano 2010, 147)