HOME E viu Deus que era muito bom… (Cf Gn 1, 31)

Depois de um amigo ter partilhado comigo este filme, não posso deixar de o mostrar, deixando ecoar em mim os textos do Génesis quando nos falam da Criação e do consequente compromisso ecológico de cada cristão.

Home é um filme da autoria do realizador francês Yann Arthus-Bertrand, é constituído por paisagens aéreas do mundo inteiro e pretende sensibilizar a opinião pública mundial sobre a necessidade de alterar modos e hábitos de vida a fim de evitar uma catástrofe ecológica planetária.

O filme na íntegra (1:58’18’’), dobrado em português e com qualidade HD pode ser visto aqui.

Igreja é Comunhão – III

A Comunhão na Sagrada Escritura

Para já, podemos adiantar que comunhão humana deriva da comunhão trinitária, como a imagem deriva do original, causa exemplar e inclui a distinção, a diferença e a pluralidade. Só se torna possível porque o Pai toma inteiramente a iniciativa, enviando o seu Filho como vida para o mundo.
A novidade da condição do cristão consiste fundamentalmente na sua participação na vida trinitária, que a teologia bíblica neotestamentária designa com o termo grego koinônia. A salvação obtêm-se através da comunhão com Cristo e com os outros baptizados. E a mística da unidade “entre Deus e o homem, e entre os homens e Cristo, é no cristianismo uma mística do encontro […]. Assim se constata também neste aspecto que o mistério trinitário é o fundamento mais profundo e o sentido último do mistério da pessoa humana e da sua perfeição no amor”(Walter Kasper).
A comunhão tem subjacente a dinâmica do amor divino, de um Deus que se revela aos homens e se dá a conhecer por amor.
A Sagrada Escritura é fonte de comunhão e cânone por onde se pode verificar a autenticidade das várias comunhões; é o garante inspirador de ulteriores comunhões, pois o homem por si só não era capaz de comunhão; a comunhão horizontal é fruto e reflexo da comunhão vertical.

“Esta união e comunhão dos homens entre si encontra na trindade o seu exemplo e fonte. Na verdade, Deus quis introduzir os homens no mistério do amor da comunhão trinitária. Quis que os homens dispersos, divididos, filhos da cólera e da iniquidade, se congregassem e reunissem no Espírito de amor, a exemplo das Pessoas divinas. Por meio da Igreja, Deus quis fazer de todos os homens uma só família, um só povo, um só corpo de Cristo. E quis que o elemento de união, de coesão desse povo fosse o amor pelo qual o Pai ama o Filho e Filho ama o Pai”(René Latourelle).

O amor, como fonte de coesão, é um reflexo do amor trino revelado pelos textos do Novo Testamento, no qual viver em Igreja “como comunidade não significa configurá-la ao arbítrio de grupos ou maiorias. A comunidade eclesial é comunidade com Deus por Jesus Cristo e no Espírito Santo e desenvolve-se como comunidade na Palavra de Deus e nos sacramentos”(J. Pottmeyer). Como consequência, a palavra comunhão (koinônia) significa participação comum. Designa uma relação baseada na participação e uma realidade partilhada. Exprime a participação comum em Jesus Cristo, no Seu Evangelho, na Sua fé, transmitidos pelos Doze. Aqui o Espírito Santo manifesta a sua acção como autêntico agente dessa comunhão que converte em católica a Igreja universal, ao integrar a diversidade e pluralidade de elementos, como tema essencial.
A comunhão é a participação na realidade da salvação na qual Deus nos introduz pelo baptismo e é também uma exigência, feita por Deus de actuação intramundana.
Perante estes dados, “a Comunhão trinitária é fonte de inspiração para práticas sociais. Especialmente os cristãos comprometidos com mudanças estruturais da sociedade a partir das grandes maiorias pobres encontram na Tri-unidade a sua utopia eterna.[…] Por isso uma sociedade que se deixa inspirar pela comunhão trinitária não pode tolerar as classes, as dominações a partir de um poder (económico, sexual ou ideológico) que submete e marginaliza os demais diferentes”(Leonardo Boff). As comunidades primitivas, fiéis à sua missão, anunciam o Deus criador que quer a plena realização da criatura humana, e esta só se pode realizar na sociedade do amor, não pode deixar de haver relação entre a história eterna da comunhão trinitária e o processo histórico de construção da família humana. Esta comunhão fraterna tem como base a fé, em referência à doutrina dos Apóstolos: expressa-se no culto, mediante a fracção do pão e as orações e toma a sua realização concreta através da partilha dos bens materiais”(Bruno Forte).
A comunhão em Cristo é activa, é dinâmica, operacional, não se ficando apenas na contemplação, mas concretiza-se em obras. A comunhão em Cristo é fonte de comunhão com todas as pessoas.
A Igreja, a partir da comunhão pericorética da Trindade, “mistério solar, ilumina o mistério lunar da Igreja, mostra-se como um mistério derivado (mysterium derivatum como falavam os Padres da Igreja) de outros mistérios mais fundamentais, principalmente, daquele do amor e da comunhão entre os divinos Três. Como há a koinónia trinitária, assim há a koinónia eclesial”(Leonardo Boff).
É precisamente desta realidade, a eclesial, de que nos vamos ocupar no próximo post.

A Igreja é Comunhão II

Nova Visão de Igreja
Torna-se necessária uma nova visão da Igreja e da sua missão, pois “durante muito séculos a certeza foi garantida pelo conceito de Deus. Deus omnisciente, omnipresente e omnipotente, não só criara o mundo como também promulgara os princípios de acção a respeito dos quais não havia dúvidas. A Igreja ‘interpretava’ detalhadamente esses princípios, e o indivíduo, que garantia seu lugar na Igreja atendo-se às suas regras, estava certo de que, independentemente do que acontecesse, ele estava no caminho da salvação e da vida eterna no céu”(Erich Fromm). Hoje em toda a sociedade, e não só na Igreja institucional, “a própria identidade social está em questão. Pois cada indivíduo não se pode mais apoiar sobre um fundamento social comummente admitido por todos, a questão que se põe é sobre que fundamentar a existência. Há alguma coisa que precede o indivíduo? E se nada o precede, como é que o sujeito se pode tornar ele mesmo?”(Yves Petiton). A liberdade está subjacente a esta mudança, sendo aquela um dos valores que o homem dos nossos dias defende com todo o afinco. Mas enquanto que para a Igreja, a comunidade precede o indivíduo e cada um não se pode determinar a não ser em referência ao que o precede. Isto explica, em parte, a crise eclesial sem precedentes que vivemos. Em consequência, devemos compreender esta crise como a elaboração de novos modelos. Depois poderemos verificar se a comunhão, como tal, está em crise ou é a forma de a realizar que não responde às questões do nosso tempo.
Os cristãos admitem que a “communio não se realiza ‘a partir de baixo’; ela é graça e dom, participação comum na única verdade, na única vida e no único amor de que Deus nos fez participantes por meio de Jesus Cristo, através da mediação da Palavra e do sacramento, no Espírito Santo”(Walter Kasper).