Catequese e Comunidade

Na próxima terça-feira, 5 de Julho, reúnem-se em Bragança os responsáveis pelos Serviços Diocesanos de Catequese, das Dioceses do Norte de Portugal.
O responsável,
P.e Manuel Queirós da Costa, da Diocese de Vila Real, enviou o texto que se segue para reflexão e posterior debate.
Partilho-o com todos os interessados. Se quiserem enviar algum comentário, estejam à vontade.

1. Ao proclamar o Evangelho, Jesus Cristo partilha a sua missão com a comunidade dos discípulos: os doze (Mt 10,1) o grupo mais alargado que segue Jesus (Mt 8,22), os setenta e dois (Lc 10,1), as mulheres que O acompanham (Lc 8,1-3).

2. A Igreja nascente recebe do Senhor Ressuscitado a missão de fazer discípulos de todas as nações (Mt 28,19-20;DGC 34). O processo de evangelização, pelo qual se transmite a fé, inclui etapas distintas: o primeiro anúncio do Evangelho (sementeira da Palavra) cumpre-se de forma básica e fundamental na catequese (crescimento e maturação que produz fruto). Existe uma relação tão profunda entre evangelização e catequese que se pode comparar ao grão e à espiga (ver Mc 4,1-20). A catequese, para baptizados ou para quem se prepara para receber o baptismo, implica uma entrega viva do Evangelho e de todo o Evangelho aos homens (DGC 78,105 e 111).
3. O texto bíblico mais citado pelo Concílio Vaticano II é Act 2, 42-47 que recolhe a experiência da primeira comunidade cristã. O concílio refere-se a este texto quando se pronuncia sobre o que deve ser a Igreja (LG 13;DV 10), a vida do sacerdote (PO 17 y 21), do missionário (AG 25) e a vida religiosa (PC 15). O Concilio foi aliás convocado para devolver ao rosto da Igreja de Cristo todo o seu esplendor, revelando as características mais puras e mais simples da sua origem (João XXIII, Discurso preparatório, 13-11-1960).
4. As primeiras comunidades são constituídas por grupos de homens e mulheres que se reúnem no dia do Senhor (Ap 1,7). Entre todos estabelece-se una relação de fraternidade. Deste modo, o mistério de comunhão que constitui a Igreja (ver LG 1) torna-se visível também aos olhos dos não crentes, que dizem: «Vede como eles se amam! São como que uma grande família». A Igreja não é exército (relação de comando: superior – subordinado) não é escola (relação de ensino: mestre – discípulo) mas é comunidade (relação de fraternidade).
5. O fundamento dessa comunhão, o que verdadeiramente aglutina a nova família dos discípulos, é a Palavra de Deus: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 8,21). Quem acolhe a Palavra, vincula-se à comunidade.
6. Nas primeiras comunidades, a Palavra de Deus faz-se experiência de Cristo (Act 2,36) e experiência de conversão (2,38). A comunidade é lugar de perdão e da acção do Espírito (Act 2,38). É lugar de ensino, de comunhão, de celebração e de oração (2,38.42). Na comunidade há sinais (2,45), que confirmam a Palavra anunciada. A comunhão de corações traduz-se numa efectiva comunicação de bens (2,44 e 4,32). A comunidade acolhe e incorpora os novos membros (2,47).
7. As primeiras comunidades são minoria dentro da sociedade, encontram-se em situação política e religiosa adversa. Porém, são como uma cidade levantada no alto de um monte (Mt 5,14), como levedura na massa (Lc 13,21). Dá-se nelas um forte processo de evangelização quer de adultos, quer de crianças. A catequese faz-se por imersão na vida da comunidade (Act 2,46; ver 12, 12; 1 Cor 16,19; Flm 2; Col 4,15).
8. Sendo comunidade, a Igreja é luz das gentes (LG 1), sinal levantado no meio das nações (SC 2), sacramento universal de salvação (GS 45). Não é o indivíduo mas sim a comunidade que pode evangelizar. Não é o indivíduo mas sim a comunidade que renova profundamente a Igreja. A comunidade é o grande sinal do Evangelho oferecido à humanidade.
9. No Sínodo de 1977 a comunidade eclesial viva é considerada como o lugar principal de catequização: «Como para a evangelização também a catequese, são da maior importância as comunidades eclesiais de base. De facto, dentro delas, sentem-se os cristãos Igreja, de modo pessoal, contagiam-se na experiência da fé e educam-se no amor fraterno» (Prop. 29) No nosso tempo, é preciso refazer o tecido comunitário da Igreja. Sem tecido comunitário, vê-se o esqueleto à Igreja e, em vez de atrair, espanta (ver Ez 37,11). O Sínodo da catequese foi crítico com a situação actual da paróquia, necessitada de profunda renovação: De facto, muitas paróquias, por diversas razões, estão longe de constituir uma verdadeira comunidade cristã. No entanto, a via ideal para renovar esta dimensão comunitária da paróquia poderá passar por fazer dela uma comunidade de pequenas comunidades (Prop. 29;ChL 26, 34; DGC 258).
10. A comunidade é a origem, o lugar e a meta da catequese (DGC 254). Em primeiro lugar, é a origem. O catequista não actua em seu próprio nome mas em nome da comunidade cristã e, portanto, em nome da Igreja (local e universal): Quando o mais humilde catequista…reúne a sua pequena comunidade, mesmo sozinho, exerce um acto de Igreja (EN 60; DGC 253,254,261,263 e 264). Mais, o catequista está entroncado numa tradição viva, que remonta aos apóstolos. Pode dizer como Paulo: Transmiti-vos o que eu mesmo recebi (1 Cor 15,3).
11. A comunidade é o lugar ou âmbito normal da catequese (MPD 13). É como o seio materno onde se faz a gestação do homem novo por meio da Palavra de Deus viva e permanente (I Pe 1, 23). É a piscina de Siloé na qual o cego de nascença cura sua cegueira original (Jo 9,7). O testemunho da comunidade é fundamental.

12. A comunidade é a meta da catequese: «A catequese corre o risco de se esterilizar, se uma comunidade de fé e vida cristã não acolher o catecúmeno a certo passo da sua catequização. É por isto que a comunidade eclesial, a todos os níveis, é duplamente responsável em relação à catequese: antes de mais, tem a responsabilidade de prover à formação dos próprios membros; depois, também a de os acolher num meio ambiente em que possam viver o mais plenamente possível aquilo que aprenderam» (CT 24). A catequese cria comunidade (se não existe) e renova-a (se já existe). Enfim, a catequese conduz à maturidade da fé da comunidade e de cada fiel.

Algumas questões para o debate:

– O que é uma comunidade cristã? Quais as suas características principais?
– Que importância tem para a iniciação cristã?
– Qual o seu papel na transmissão da fé?
– Que desafios se colocam hoje à catequese?
– Os catequistas vivem a experiência comunitária que desejam transmitir?

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