A Comunhão como Sentido

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Hoje, a vivência da comunhão pode assumir novos contornos; as possibilidades oferecidas pela técnica podem ajudar a uma maior clarificação do conceito de “comunhão” e a descobrir novas formas de a praticar. É um dado assente que esta revolução é universal, tal como a Igreja pretende ser – católica –, assim à Igreja cabe compreender este processo, assimilá-lo, na medida do possível, para poder situar-se na nova sociedade e realizar aí a sua missão, numa sociedade que pode caminhar para o bem e para o mal


Atelier – Os Materiais Catequéticos e a sua exploração na catequese com adolescentes

Este fim-de-semana participai nas Jornadas Nacionais Catequistas, em Fátima, subordinada ao tema «A Catequese dos Adolescentes».
Aí, orientei um atelier, intitulado «Os materiais catequéticos e a sua exploração na catequese dos adolescentes».
Aí, para além das interacções entre os participantes e as diversas comunicações,  partilho aqui a apresentação que utilizei para suportar a minha comunicação.

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Conclusões do Atelier, tal como o SNEC divulgou:

Apreciação
1.  Aspectos positivos
      São uma ajuda preciosa
      Há um salto qualitativo na qualidade
      Ilustrações apelativas
      Mais dinâmicas nos encontros
      Maior riqueza doutrinal das introduções dos guias
      A existência de duas propostas de experiência humana
      As músicas propostas são actuais e mais apelativas
      Maior preocupação com a interiorização da mensagem e com o compromisso.
      Apostar no grupo – ensina a ser grupo
2.  Aspectos a melhorar
      Conteúdo doutrinal excessivo nas sessões de catequese
      Dificuldade em levar os catequizandos a fazer uma experiência de fé
      A saída dos materiais mais cedo, antes do ano catequético ter terminado
      Introduzir mais momentos de oração e celebração
      Introduzir dinâmicas e propostas para os tempos litúrgicos fortes
      Mais propostas de compromisso social e eclesial
      Explicitar as propostas pedagógicas em ordem a uma adaptação aos adolescentes

Usabilidade
1.  Aspecto positivo
      Guia e catecismo estão bem articulados entre si
2.  Aspectos a melhorar
      Maior divulgação dos meios audiovisuais
      Ter mais em conta o tipo de comunidades paroquiais onde vão ser trabalhados
      Diversificar o tipo de linguagens empregues
O grupo foi unânime em considerar que os materiais têm uma clara opção pelo ensino e não pela conversão, como deveria ser.

Introdução ao Novo Testamento

Na próxima sexta-feira começa mais um semestre do Curso Teológico-Pastoral, na Faculdade de Teologia – Braga.
Uma das Unidades Curriculares é a de «Introdução ao Novo Testamento».
O programa vai ser este:

1. Contextualização Geral
a. «Dei Verbum»
b. História
c. Ambiente Político e Religioso
d. Escritos do Novo Testamento

2. Evangelhos Sinópticos
a. O «problema sinóptico»

3. Actos dos Apóstolos
a. A Igreja nascente
b. As viagens de Paulo

4. Escritos Paulinos

5. Carta aos Hebreus

6. Cartas Católicas

7. Escritos Joaninos

8. Apocalipse

O texto base vai ser a Bíblia, como é óbvio, preferencialmente na edição realizada pelos Padres Capuchinhos, bem como outros apontamentos aqui recolhidos.

A Igreja é Comunhão – IX

Efémero
Com o aumento da transitoriedade, as pessoas vivem num elevado estado de mudança, por isso, a duração das suas conexões é reduzida. Isto condiciona o modo como se enfrenta a realidade; a sua aptidão ou inaptidão para enfrentar as dificuldades. Esta movimentação rápida, combinada com a crescente novidade e complexidade do ambiente que os rodeia, força a capacidade de adaptação e cria o perigo do choque do futuro (Cf. Alvin Toffler).
O Homem vive numa “espécie de carrossel, com um caleidoscópio de visões e de hipóteses, lacerados e despedaçados interiormente, aspirando por vezes ao absoluto mas acabando por contentar-se com o efémero e o provisório; lançados numa existência dominada pelas ciências exactas e pelas altas tecnologias, mas com os problemas de sempre sobre o sentido da vida e sobre como alcançar a felicidade”(P. Giustiniani). Talvez esta situação seja reflexo de maus processos de aprendizagem, originados pelo uso incorrecto da informática. Esta “impõe aos utilizadores aprender vibrando, e escutar respondendo. O computador não somente fala ao usuário através do raio lúdico da tela do vídeo, mas cria sons e imagens. O ‘homo informaticus’ é um homem de espectáculo e de prazer, um homem de análise e de inter-relações. A era da informação é semelhante á imagem do computador”( Pedrinho Guereschi), correndo-se o risco de o indivíduo não reflectir sobre o que aprendeu, tornar-se um mero receptor passivo, absorvendo tudo sem uma selecção crítica.
Este erro não deixa perceber que “o próprio movimento da história torna-se tão rápido, que os indivíduos dificilmente o podem seguir. O destino da comunidade humana torna-se um só, e não já dividido entre histórias independentes. A humanidade passa, assim, duma concepção predominantemente estática da ordem das coisas para outra, preferentemente dinâmica e evolutiva; daqui nasce uma nova e imensa problemática, a qual está a exigir novas análises e novas sínteses”(GS 5), pois a rapidez, a profundidade e a imprevisibilidade de algumas transformações recentes conferem ao tempo presente uma característica nova: a realidade parece ter tomado definitivamente a dianteira sobre a teoria.
Há também aspectos positivos neste processo, “em virtude da ciência e da técnica, a humanidade pode pela primeira vez na história encaminhar-se para se libertar da tirania da natureza, que desde sempre a incomodou. Mas, ao realizar essa libertação do homem frente aos poderes opacos da natureza, o homem acaba por entrar simultaneamente numa nova dependência em relação às suas próprias obras e organizações” (Jürgen Moltmann), com a consequente desorientação, agora por um segundo motivo.
Esta conjugação de “desorientações” faz com que actualmente “grande parte da humanidade de hoje não sabe para onde vai, o que quer dizer que está perdida, sem rumo, desorientada. Temos dois casos elucidativos disso: nos jovens, a droga, e nos adultos, as rupturas conjugais. Ambos os casos nos colocam sobre o tapete da fragilidade existente nos nossos dias”(Enrique Rojas); um existir que tem um sentido efémero.
Mas ao mesmo tempo que se desagregam os valores e as normas nos modos exteriores de acção quotidiana “vemos que também os indivíduos se dispersam e fragmentam: é a época do efémero, das necessidades provocadas artificialmente e logo satisfeitas para se provocarem novas necessidades, sem orientações estáveis, como aliás é sugerido também por muitas mensagens dos meios de comunicação”(P. Giustiniani).. As consequências da destruição dos fundamentos éticos do viver são já hoje claramente visíveis; assistimos à proliferação da “civilização da morte”(Joseph Ratzinger).

A Igreja é Comunhão – IX

O processo de alteração da sociedade, através das evolução tecnológicas, estou em crer, é imparável. No futuro, a ciência e a técnica “continuarão a desenvolver-se segundo uma lógica que lhes é imanente e necessária, e a sua transmissão às gerações futuras é também consequência lógica do seu valor universal. Não se lhes pode pôr freios, contrapondo-lhes o sonho romântico de um paraíso terrestre, anterior à era da ciência; ou seja, um modo de negar aos outros aquilo que não queremos perder. O que importa, sim, é achar os meios mais adequados para lhes limitar os danos”(Joseph Ratginzer).
Se, por um lado, vivemos numa época em que a informação flui por toda a parte, por outro, o indivíduo tem de ter capacidades para se saber localizar, tanto quanto possível, na complexidade.
A educação desempenha aqui um papel importante; a linha de pensamento educacional moderna põe o seu acento na ideia de autonomia e tomada de responsabilidade pelo próprio indivíduo. A noção não é de forma alguma nova mas adquire valor de resposta à crise contemporânea de ideologias que deixa o homem sem ponto de apoio individual e colectivo.
Podemos dizer que o mundo tecnológico apresenta-se como algo de enigmático aos nossos olhos, tanto mais que acarreta consigo um estado de crise preocupante. Esta é-o porque não tem paralelo com nenhuma época anterior. A especificidade desta vem-lhe da enorme mudança que a caracteriza. Contudo, a sociedade tecnológica continua a desenvolver-se segundo uma lógica que lhe é própria e na qual cada indivíduo é chamado a tomar responsabilidades.
Neste contexto a vivência da comunhão pode assumir novos contornos; as possibilidades técnicas podem ajudar a uma maior clarificação do conceito de «comunhão» e a achar formas novas de a praticar. É um dado assente que esta revolução é universal, tal como a Igreja pretende ser (católica), assim à Igreja cabe compreender este processo, assimilá-lo, na medida do possível, para poder situar-se na nova sociedade e realizar aí a sua missão.

A Igreja é Comunhão – VIII

A tolerância perante o erro, a ambiguidade e, acima de tudo, a diversidade, apoiada por um sentido de humor e das proporções, são artigos de sobrevivência, quando preparamos a nossa mochila para a espantosa viagem do próximo milénio. Preparem-se para o que poderá ser a mais excitante viagem da nossa história(Alvin Toffler).

Vivemos no mundo da comunicação.
Este dado influencia e condiciona sobremaneira o modo de ser e de agir dos indivíduos e, consequentemente, das sociedades. Mas o mundo da comunicação continua ainda um mundo misterioso, cheio de segredos e surpresas. Apesar de se terem descoberto nele limitações, contradições e práticas que o obrigam a se adaptar e se transformar, muitas das suas estratégias permanecem ainda ocultas, ambíguas, e muitas das suas consequências nos são ainda desconhecidas.
Por esta razão, a era da informação e as suas consequências podem ser discutíveis, mas merecem ser analisadas; parece, inclusive, sintetizar as duas etapas de comunicação anteriores: escrita e audiovisual. Das dez grandes transformações que marcam hoje a nossa sociedade, nenhuma é mais subtil, e contudo mais explosiva, que a passagem de uma sociedade industrial para uma sociedade de informação.
Embora se possa duvidar do nome ou das causas, o certo é que vivemos uma crise que nos preocupa. Perante isto, “torna-se necessário reconhecer que o que a ‘nossa’ apresenta de original e único (para além de não podermos deixar o cuidado da sua resolução aos outros) assenta na qualidade de mudança e de imaterial que caracterizam a nossa civilização e a nossa cultura neste final de século”(João Caraça). O que se torna preocupante é que a novidade deixa-nos sem pontos de apoio no passado; a história não nos dá grandes lições, pois nenhuma sociedade se organizou como a nossa.
É impossível iludir esta crise que está em plena eclosão no Ocidente e que se alastra a todo o globo: temos que tentar compreendê-la. Sabemos, à partida, que as mutações que estamos a viver são fruto de transformações tecnológicas, em ordem à massificação da informação. Sabemos também que as novíssimas estradas da informação permitem deslocar recursos, instantaneamente, através das praças financeiras. Permitem, também, fluxos de informação. E de fluir resulta influenciar.
A mentalidade resultante daqui modela a cultura e os modos de pensar tornam-se diferentes dos do passado. “A técnica progrediu tanto que transforma a face da terra e tenta já dominar o espaço”(GS 5).
Mas, por outro lado, “o progresso tecnológico deixou de ser visto como a maneira automática e natural de atingir o bem-estar económico e social no nosso planeta. A crise presente, pelas suas características globais, resulta do desajuste (ou esgotamento) do modelo da modernidade que vigorou nos últimos 150 anos”(João Caraça), estão a emergir vozes críticas que põe em causa a viabilidade da autonomia do progresso tecnológico.

A Igreja é Comunhão – VII (ponto de situação)

Se, por um lado, a comunhão aparece como algo de desejável, por outro lado, é uma realidade que todo o homem nasce, vive e morre só. A agudeza desta verdade sente-se a caminho de cada calvário, lugar onde cada um percebe o valor e a importância da comunhão, pois quando experimentamos a ajuda de um qualquer Cireneu, recordamos o de desejo de viver em comunhão.
Mas é precisamente este valor que está em crise, devido às mutações sociais, provacadas pela industrialização e as crescentes mobilidades. A Igreja, existindo neste contexto histórico, também se sente perturbada por tais mudanças sociais, até porque a linguagem usada pela sociedade deixou de ser a religiosa.
Torna-se então claro que a Igreja tem de repensar a sua missão, tem de se repensar. É a sua própria identidade que está em causa. A comunhão — que a Igreja é — pode ser um ponto de ligação entre as duas sociedades. A tarefa que se impõe é a de descobrir as fontes inspiradoras da comunhão: elas são a Sagrada Escritura e as comunidades eclesiais concretas, pois se por um lado a comunidade primitiva experimentou e viveu a comunhão, por outro lado nós hoje conhecemos e experimentamos esta realidade através das comunidades que se lhe seguiram ininterruptamente até hoje.
Segundo a Sagrada Escritura a comunhão humana deriva da comunhão trinitária, como a imagem deriva do original. A própria salvação é obtida através de Jesus Cristo, mas em comunhão com os outros baptizados. Dá-se a mística do encontro entre Deus e os homens, entre os homens e Cristo, e dos homens entre si. Aqui está patente a dinâmica da salvação na qual Deus nos introduz pelo baptismo. O cânone da autenticidade de cada acto comunitário está na Igreja primitiva, na Igreja dos Actos dos Apóstolos. Aí, o exercício da comunhão fazia-se através da participação e da partilha comunitárias.
O Espírito Santo apresenta-se, neste contexto, como o autêntico agente dessa comunhão que converte em católica a Igreja universal, ao integrar a diversidade e pluralidade de elementos. De notar que uma sociedade que se deixa inspirar pela comunhão trinitária não pode tolerar as classes, as dominações a partir de um poder que submete e marginaliza os que ousam ser diferentes, respondendo afirmativamente à sua identidade.
Mas a Igreja, que é comunhão, só se compreende a partir de factos concretos e visíveis: enquanto comunhão eucarística, a Igreja é não só imagem da comunhão trinitária, mas também a sua actualização. Ela não é apenas sinal e meio de salvação, mas também fruto da salvação. Enquanto communio eucarística é a resposta sobreexcedente à questão humana originária da comunhão.
Esta questão é mediada por símbolos; são eles que nos reportam para o mistério. Actualmente há a disparidade entre as objectivações eclesiais e a restante sociedade, havendo a registar muitas contingências que afectam a valorização dos símbolos religiosos, pelo que a Igreja deve fazer-se a si mesma de muitas formas, cada uma delas representa uma acomodação do símbolo aos destinatários. Deste modo, a Igreja presente no mundo, recorda a dimensão esquecida do homem, a dimensão relacional, a que aspira até no além-túmulo.
Algumas formas de comunhão têm na morte a sua fronteira inevitável, o fracasso de todos os messianismos terrenos e a inexistência de uma esperança verdadeiramente universal. A comunhão eclesial, pelo contrário, é comunhão também para além da morte; só ela pode satisfazer o desejo mais íntimo do coração humano. A instituição eclesial deveria ser o espaço onde se vive já o que proclama a fé, o sinal sacramental da fraternidade escatológica, que, além de aguardar o significado, realiza o que significa. As dimensões visível e invisível da Igreja não deviam ser consideradas como duas coisas distintas, mas como duas dimensões implicadas mutuamente.
É, pois, de suma importância que a comunhão se fundamente teologicamente e que se diga: a eclesiologia da comunhão constitui o critério fundamental para a ordenação da Igreja e especialmente para a correcta relação entre unidade e multiplicidade; síntese muito útil numa sociedade da informação ou informacional, pelo que se manifesta a necessidade de cultivar o espírito de comunhão para construir a comunidade.