A pretexto do Caminho de Santiago…

Partilho aqui um texto de um Companheiro de caminhada…

Há momentos na vida que apetece partir…

Este foi um desses momentos!

Animava-me três palavras: a PAISAGEM que adivinhava linda e impactante ao ponto de achar que merecia conhecer e usufruir dos seus encantos; o DESAFIO da superação física, do esforço contínuo e intenso feito meta a ultrapassar…; a PARTILHA transformada em comunhão do “dia após dia” com um grupo de pessoas (próximas aquelas que me aceitaram no grupo, mais distantes aquelas que encontrei ao longo do caminho) as dificuldades, o silêncio, o gesto, a fadiga e a certeza de que, sem saber donde somos e o “porque das coisas”, uma mão de auxílio ou ternura estaria sempre ao nosso alcance…

PARTIR é sempre difícil porque, mais do que uma simples viagem (mesmo sabendo de ida e volta), quando sentida, a partida é sempre um acto de despojo e, diria mesmo, de negação do que temos… De formas diferentes, libertamo-nos do trabalho, do conforto, da família, … Por isso, para

mim, partir foi difícil…

Depois da partida… o caminho foi, numa primeira fase, surpreendente, depois absorvido e, por fim, incorporado e deliciado.

SURPREENDENTE nas paisagens que se abriam à minha frente, na quantidade das pessoas que acompanhavam o percurso, nas construções que pontuavam as margens das estradas, no grupo que aprendia a conhecer e conversar…

ABSORVIDO quando as paisagens já não espantavam os olhos, os peregrinos se transformavam em amigos, o grupo se tornava cúmplice e compreensivo para com a diversidade e a empatia dos nove…

DELICIADO assim que o “uno”, um simples jogo de cartas demonstrava que a fé, a amizade, a beleza das “coisas” se fazem com alegria, descontracção, sentimento e vontade… e com estas palavras impregnadas no corpo, definitivamente, “vemos mais além”, transformando a surpresa e a dúvida de não conseguir em algo muito distante e secundário…

E, no fim, as três palavras voltam a marcar presença na certeza de que a PAISAGEM ficará onde sempre esteve, o DESAFIO não é mais do que uma meta atingida e a PARTILHA (essa palavra nem sempre entendida na sua plenitude) será sempre a mistura doseada e equilibrada da verdadeira solidariedade, genuína alegria, verdade limpa e fé fortalecida, no final, transformada em força e vontade de viver!

Há momentos na vida que apetece partir… na certeza que valerá a pena regressar… porque nos espera quem mais amamos e desejamos, porque do caminho chegamos mais ricos do que partimos…

Foi o que aconteceu…

Agora, só falta o último passo: fazer sentir que “cheguei mais rico do que parti” a todos aqueles que, de uma forma ou outra, chego e toco (família, amigos, colegas, conhecidos, …), partilhar com todos eles esta riqueza adquirida… poderá ser com um simples sorriso, um afago, uma conversa, …, ou simplesmente uma partida de “uno”!

A todos, obrigado, um abraço amigo,


Filipe Fontes


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