A educação cristã na Web IX

Mas das caraterísticas de uma ecologia educativa, tal como Georg Siemens a teorizou no Conectivismo[1], deriva a imprescindibilidade de os facilitadores de aprendizagem possuírem uma identidade virtual acessível e que lhe dê existência digital, organizada a partir de uma presença facilmente localizável e interligável com as diversas ferramentas Web 2.0. E esta presença digital tem de possuir características tais que seja viável para desempenhar tudo o que se espera de uma educação cristã digital contextualizada e a sua facilitação. É este recurso que vai permitir ao facilitador realizar todos os papéis acima referidos, pois é o “espaço” onde a interação com os aprendentes acontece.
Por tudo o que acima se disse e pela facilidade de criação e manutenção, bem como pela ausência de custos para o utilizador, estamos persuadidos que essa presença há de ser um blog[2]Paul Anderson reflete sobre aquelas que serão as ferramentas e os serviços típicos da Web 2.0, a saber: o blog, a wiki, o social bookmarkinge o sistema de etiquetagem de conteúdos, a partilha de áudio e de podcasting, e, por fim, a sindicância de conteúdos[3]. De comum, estas ferramentas têm o facto de darem ao utilizador o controle do processo de produção, catalogação e divulgação dos conteúdos, bem como a moderação dos comentários, nos quais se faz a discussão. E também a possibilidade de facilitar e promover a replicação dos seus conteúdos.
Neste nosso caso, e porque é a ferramenta que permite fazer a síntese de todas as outras, pela possibilidade que tem de embeber os outros conteúdos com facilidade, ir-nos-emos centrar no blog. A aparente simplicidade de um blog, no dizer de George Siemens e Peter Tittenberger, «é ilusória. O blog oferece oportunidades únicas para os educadores melhorarem a comunicação com os alunos, aumentando a profundidade da aprendizagem através da reflexão e permitir a formação de diversos pontos de vista e perspectivas»[4]. Acresce ainda o facto de ter sido esta ferramenta que permitiu, em grande escala, a passagem para a segunda geração da Web, com destaque para a produção e reorganização da informação por parte de cada utilizador, o que potenciou exponencialmente a existência da inteligência coletiva. 
Um blog é uma página simples, onde o seu utilizador ou utilizadores vão inserindo textos, imagens, sons, vídeos e hiperligações. Há ainda a possibilidade de os leitores poderem escrever comentários, enriquecendo o texto inicial com a discussão sucessiva[5]. Esta discussão por comentários pode ser totalmente livre, mediada pelo autor do blog ou simplesmente vedada. Cada publicação, também denominada post, pode ser categorizada por palavras-chave. Estas permitem que o pesquisador procure um determinado tema no blog ou chegue até ele pela pesquisa de conceitos-chave.
O sucesso desta ferramenta é tal que se criou o termo “blogosfera” para designar a existência de um número muito elevado de pessoas que têm o seu próprio espaço na Web[6]. Estes espaços têm finalidades variadas[7]. As mais comuns são a partilha e gestão de conhecimento. O cidadão comum torna-se, de facto, o centro da Web!
Das diversas possibilidades e finalidades da blogosfera, a vertente que mais nos interessa é a sua colaboração na construção do Espaço do Saber e consequente contributo para a inteligência coletiva[8].
George Siemens, já em 2002, elaborou uma reflexão, que continua atual[9], sobre o uso pedagógico dos blogs, na qual aponta os benefícios do recurso ao blog para fins pedagógicos. O primeiro é que promove as periferias, uma vez que as ideias podem ser avaliadas por si, de acordo com o seu mérito, e não apenas pela fonte de origem. O blog permite também a filtragem, ou seja, os conteúdos meritórios são filtrados através do blog e podem receber comentários e ser replicados, recebendo assim o retorno de perspectivas diversas e complementares sobre uma ideia ou conceito, explorando com exaustão os seus diversos aspectos. O blog tem também a capacidade de eliminar barreiras, o que permite acompanhar a reflexão de peritos numa diversa matéria que, sem o recurso ao blog, não se teria acesso, seja qual for a natureza da barreira que separa. Por outro lado, qualquer ideia pode ter expressão, o que origina o fluxo livredo conhecimento, sendo a interação com outros indivíduos o verdadeiro critério de seleção. Mais, este processo pode ser acompanhado em tempo real, embora possa, e é o que normalmente acontece, ocorrer de forma assíncrona. Por fim, um blog permite agregar diversas ligações, o que faz com que diversos campos de interesse e de pensamento sejam reunidos e organizados através da ação colaborativa de diversos participantes na blogosfera. Tem ainda a vantagem de ficar tudo guardado em arquivo, o que permite a consulta posterior em qualquer altura.

Mas a o grande desafio está, acima de tudo, não nas ferramentas e recursos, mas na atitude com que se aborda a Web e se utiliza ao serviço da educação cristã.



[1]Cf. G. SiemensKnowing Knowledge, 2004, 87-88, [https://www.elearnspace.org/KnowingKnowledge_LowRes.pdf (acedido a 12/07/2016)]; Idem,Learning ecologies, communities, and networks. Extending the classroom (17/10/2003) [https://www.elearnspace.org/Articles/learning_communities.htm (acedido a 29/07/2016)]; Idem, Connectivism: A learning theory for a digital age(12/12/2004) [https://www.elearnspace.org/Articles/connectivism.htm (acedido a 26/07/2016)].
[2]R.Santos, «Blogues – de moda a ferramenta indispensável da comunicação», in H. P. Araújo, et al (Coord.), Tecnologia e Sociedade. Tecnologia, Humano e Pós-Humano, Universidade Católica Editora, Lisboa 2007, 31-47.
[3]Cf. P. AndersonWhat is Web 2.0? Ideas, technologies and implications for education, 7-13 [https://oreilly.com/web2/archive/what-is-web-20.html (acedido a 12/07/2016)].
[4]G. Siemens, P. TittenbergerHandbook of Emerging Technologies for Learning, 2009, 43 [https://elearnspace.org/Articles/HETL.pdf (acedido a 29/07/2016)].
[5]Cf. C. RodriguesBlogs e a fragmentação do espaço público[eBook],ed. Universidade da Beira Interior, Covilhã 2006, 23.
[6]Cf. J. Canavilhas, «El nuevo sistema mediático», in Index.Comunicación1 (2011) 21-22.
[7]O sítio https://technorati.com/ disponibiliza há vários anos estudos pormenorizados sobre a evolução dos blogs. 
[8]P.LévyA Inteligência Colectiva. Para uma antropologia do ciberespaço, Ed. Instituto Piaget, Lisboa 1997; Idem,As Tecnologias da Inteligência. O Futuro do Pensamento naEra Informática, Ed. Instituto Piaget, Lisboa 1994.
[9]G.SiemensThe Art of Blogging – Part 1. Overview, Definiciones, uses, and Implications(1/12/2002) [https://www.elearnspace.org/Articles/blogging_part_1.htm (acedido a 23/07/2016)];IdemThe Art of Blogging – Part 2. Getting Started, “How To”, Tools, Ressources(6/12/2002) [https://www.elearnspace.org/Articles/blogging_part_2.htm(acedido a 23/07/2016)].

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *