Sábado, Junho 18 in Padre Zé

Ando de volta da Catequese de adultos, para o exame de Segunda. Entre muitas coisas interessantes que encontrei (é uma daquelas cadeiras importantes e interessantes, e que mais me tem dado que pensar?) deixo aqui uma, algo secundária, e mesmo muito duvidosa (que isto de classificar pessoas em estádios é tudo menos matemático, e quanto aos estádios em si também têm pouco de matemático?), mas que pode ajudar a pensar o nosso «estádio pessoal»?

A teoria é de Fritz Oser que, como método de investigação, usava os dilemas, nomeadamente o «dilema de Paul»:

Paul, um jovem médico com um futuro brilhante diante de si, parte para umas férias no fim dos estudos. Quando o avião tem uma avaria e começa a cair, Paul reza e faz a promessa de, a partir desse momento, pôr a sua vida ao serviço dos mais pobres em África, no caso de se salvar. Paul sobrevive, mas depois é-lhe oferecida uma situação profissional aliciante. Deve ou não aceitar? Deve partir para a África como tinha prometido? Paul fica na Europa, e alguns meses depois tem um acidente de automóvel. Trata-se de uma punição por não ter mantido a promessa? Entra aqui a vontade de Deus? Uma promessa deve ser sempre mantida? Recorda-se de situações semelhantes na sua vida? Como teria respondido às mesmas perguntas há alguns anos?

Da análise das respostas, Oser elabora uma proposta de leitura dos «estádios da fé» que Emílio Alberich resume assim:

Estádio 0: perspectiva da «dicotomia interno-externo» (até aos 2/3 anos) e Estádio 1: «deus-ex-machina» (entre 2/3-6/8 anos)
A criança pequena não tem ainda um «Último» (atitude pré-religiosa). Mais tarde sente-se dependente de um «Último» que intervém de forma pontual e imediata no mundo para punir ou ajudar os homens, como o deus-ex-machina das tragédias gregas. O Último é «sujeito absoluto»: o homem é objecto e executor.

Estádio 2: «do ut des» (entre 6/8-11/13 anos, às vezes até à idade adulta)
Neste momento, a criança pode não apenas reagir ao Último, mas agir sobre ele, com meios que permitem obter a sua benevolência e serviços ou fugir à sua punição. Neste estádio mantém-se com o Último uma relação de reciprocidade («dou para que dês»). O agir humano assume uma nova importância frente a este «sujeito (ainda sempre) absoluto».

Estádio 3: «deísmo» (depois dos 11/13 anos, às vezes até à idade adulta)
Algumas experiências negativas (desilusões) com o Último fazem muitas vezes o homem voltar-se para si mesmo: ele percebe que agiu e viveu «bem» e, no entanto, é vítima da desgraça. A ideia que é o próprio homem o responsável pela sua vida orienta o seu parecer, e nesta espécie de «teoria dos dois Reinos» procura estabelecer um equilíbrio entre «aquilo que é de Deus e aquilo que é do homem». A pessoa tem então a possibilidade de «delimitar o seu território»: o Último agora não intervém directamente no mundo (deísmo). Neste estádio nega-se, por vezes, a existência deste Último (agnosticismo ou ateísmo) em nome da autonomia.

Estádio 4: «a priori» e «correlação»Um novo passo é muitas vezes interpretado como uma regressão, pois dá-se de novo uma ligação com o Último. A responsabilidade e a liberdade (permanece-se livre) orientam sempre o parecer, mas com a experiência que qualquer coisa é confiada ao homem. O Último é considerado como o fundamento transcendente que cria «a priori» as condições das relações humanas, da liberdade e da sociabilidade. Admite-se muitas vezes a existência de um «plano», no sentido que o homem se envolve através de uma lei interna para qualquer coisa de mais perfeito (um «Ómega»). Deus e o mundo não são mais pensados como duas esferas separadas: existe correlação (o profano é entendido como uma parábola do divino).

Estádio 5: «intersubjectividade» absoluta
Neste ponto, o Último é considerado como «liberdade absoluta» que quer ter necessidade dos homens. Manifesta-se sobretudo na inter-subjectividade e na não contingência. Agora o homem não tem mais necessidade do «plano»: ele procura a solidariedade universal numa liberdade absoluta no confronto com o outro. Ele não é apenas livre frente ao Último (estádio 3) e graças ao Último (enquanto condição do agir humano: estádio 4), mas é «livre para» o Último. Uma dinâmica interactiva (o homem age livremente para Deus e Deus para o homem) orienta agora a vida na qual o Último está presente. E se o homem participa de maneira responsável e activa numa comunidade, faz uma experiência transcendente. As normas e a lei interna (plano) são superadas e integradas na dinâmica desta interacção.
Adivinhem quem escreveu… isso mesmo foi o Zé

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