Pensamentos Hesicásticos

Falar, hoje, de discursos hesicásticos é reivindicar uma forma de linguagem teológica rarefeita, profunda, nascida da escuta e não da agitação argumentativa

No coração da espiritualidade do Oriente cristão, o hesicasmo representa uma via de apaziguamento interior e de unificação do espírito. Derivado do termo grego hēsychía, que significa “silêncio”, “tranquilidade” ou “recolhimento”, o hesicasmo é mais do que uma técnica ascética: é um estado ontológico de quietude onde o orante se dispõe à presença de Deus sem ruído, sem imagem, sem linguagem exterior.

Na tradição dos Padres do Deserto, sobretudo em Evágrio Pôntico e nos autores da Filocália, o hesicasta retira-se para o espaço interior da alma, ali onde o Logos pode habitar sem ser obscurecido pelas paixões ou pelas distrações do mundo. A oração do coração — como a célebre oração de Jesus — torna-se o compasso de um silêncio habitado, onde o Espírito ora com gemidos inefáveis (cf. Rm 8, 26).

Falar, hoje, de discursos hesicásticos é reivindicar uma forma de linguagem teológica rarefeita, profunda, nascida da escuta e não da agitação argumentativa. São pensamentos que se dizem a partir do silêncio e que só se compreendem bem quando lidos com a lentidão da alma contemplativa. São fragmentos de eternidade murmurados no tempo, onde a teologia se faz oração, e o pensamento, epifania do silêncio.

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