O Advento de Deus

O Advento recorda a dimensão histórica da salvação, evidencia a dimensão escatológica do mistério cristão e insere-nos no caráter missionárioda vinda de Cristo.

Os textos litúrgicos mostram a história da humanidade e o mistério da vinda do Senhor, Jesus, que de fato encarna e torna-se a presença da salvação na história, dando pleno cumprimento àquilo que os profetas anunciaram: Deus, ao fazer-se carne, plenifica o tempo (Gl 4,4) e torna presente o Reino (Mc 1,15).
O Advento recorda também o Deus da Revelação. Aquele que é, que era e que há-de vir (Ap 1, 4-8), que está sempre a realizar a salvação, mas cuja consumação se cumprirá no «dia do Senhor», quando o tempo já não for tempo, na escatologia.
 O caráter missionáriodo Advento manifesta-se na Igreja pelo anúncio do Reino e o seu acolhimento no coração de cada pessoa, até à manifestação gloriosa de Cristo. As figuras de João Batista e Maria são exemplos concretos da vida missionária de cada cristão: quer preparando o caminho do Senhor, quer levando Cristo aos irmãos.

A celebração do Advento é, então, um meio precioso e indispensável para reaprendermos o mistério da salvação e assim termos a Jesus como referência e fundamento.

Quando o crer liberta

Depois de se poder constatar que um indivíduo totalmente autónomo, fechado sobre a sua razão, não existe, é uma ilusão não podemos cair no erro de ficar encerrados na radical imanência  do horizonte último de toda a crença.
A transcendência liberta! A possibilidade de sermos interpelados de forma absoluta, com a constituição de uma certeza fundamental, ou uma base sobre a qual se possa construir todas as outras dimensões, é posta de parte por muitos contemporâneos. É certo que a transcendência, porque transcende, só pode ser apreendida por cada pessoa no aqui e agora da sua história, por isso limitado e incompleto. Mas é parte integrante do crente a aceitação dessa finitude, que nos determina como seres de acolhimento e não como donos e senhores da realidade.
O processo crente, e os crentes, precisam de integrar a hermenêutica— que situa o crer numa tradição, numa cultura e na finitude do processo histórico-cultural do ser humano; e a metafísica — que não limite o crer ao horizonte cultural, antes o percebe em relação com o excesso que o habita por dentro.
Só assim, nesta recepção, é que nos realizamos como seres livres, que recebemos o Dom como sentido e o atualizamos no modo de crer, porque sabemos, agimos e esperamos para além do aqui e agora.

Quero crer

O crer, o acreditar na fé, inaugura uma dimensão excessiva em relação à produção de sentido. Na dinâmica do crer, o sentido, mais do que produzido, é acolhido.
O crente, na sua acepção mais genérica, é todo aquele que reconhece, contempla, se espanta e aceita este estatuto de «ser mistério», a ontologia de «ser dado». Aceita que o dom originário, embora compreendido e aceite no seu âmago e nas suas consequências, nunca será totalmente captado e dominado pelos saberes humanos, quer pela ciência quer pela práxis: apenas poderá ser acolhido pela pessoa crentecomo algo imerecido e, ao mesmo tempo, excessivo em relação a tudo o que sabe e faz.
O ser humano crente é o que sabe como crente, sabe o mundo e o sentido de forma crente, por isso age como crente. O crente sabe-se e sabe o mundo como crente quando se aceita e aceita o mundo como originados e não como origem e fim em si mesmos, por isso o saber do crente é um saber de esperança. E porque se descobre e acolhe como dom gratuito, dá-se aos demais de forma gratuita, com fundamento fora de si — no Outro — pelo que o saber crente gera a ação caritativa.

Dizer Deus: o Novo, de novo!

Num contexto de nova evangelização, que de novasó tem o nome, porque é fazer aquilo que sempre se fez, e que Cristo nos mostrou e em Si realizou: anunciar a Boa Nova, curar os que sofrem e dar vida em abundância.
A Palavra de Deus apresenta-se, no Antigo Testamento, sob muitos aspetos, mas mantém a característica de ser uma palavra que, simultaneamente, revela e esconde: não se deixa reduzir a simples significados verbais. No Novo Testamento, esvai-se a diferença de níveis de comunicação entre Deus e o homem, provenientes das diferentes naturezas.
«Sabendo Jesus que chegara a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele que amara os Seus que estavam no mundo, levou até ao extremo o Seu amor por Eles»(Jo 13, 1). E o auge da doação: a palavra articulada faz-se palavra imolada. Na Cruz, Jesus Cristo mostra o amor de Deus aos homens; a palavra de Deus esgota-se até ao silêncio. A hora da morte e do silêncio é a suprema expressão do amor oferecido à humanidade. Aquilo que na comunicação divina é incomunicável diz-se agora com os braços estendidos e o corpo dilacerado.


À luz da Ressurreição, a relação entre o homem e Deus é, pois, reflexo do diálogo trinitário, gerador de comunhão amorosa, na qual o homem é chamado a participar. Apesar da dificuldade do cidadão hodierno — fechado sobre si e incapaz de se situar perante o dom —, é preciso continuar a anunciar o Deus que se fez homem e que diviniza a humanidade pela comunicação do seu ser pessoal.
Anunciar Deus de forma sanante leva a descobrir, em conjunto com os vários saberes, outros métodos de comunicar, que integrem a fé e evitem o absurdo. Processo capaz de ser realizado por aqueles que falam como se vissem o invisível, sempre em busca de novos métodos de contar a verdade, marcados sempre pelo imprevisível.

Nesta dinâmica, cada um acabará por sentir, no mais íntimo da sua humanidade, o apelo duma Proposta transcendente, que foi por vezes rejeitada enquanto expressa em paradigmas ultrapassados, mas que surge agora, nova e disponível, para a reinvenção do futuro. De um futuro com um Deus tão transcendente que não se deixa reduzir a simples verbalizações que aprisionam, mas tão próximo que chama cada pessoa, do âmago de cada cultura, a uma sanação libertadora: oferecendo-lhe o sentido, como dom.

Obrigado, Comunidade!

Nos tempos que correm, fortemente influenciados pela modernidade já superada, as tradições são postas em causa, pois crê-se que com o progresso científico-técnico o ser humano, recorrendo apenas à razão, pode encontrar em si, e de forma autónoma, a totalidade das suas motivações e, por isso, todo o conhecimento. Mas isto, que é um preconceito contra a tradição, redunda na negação daquilo que quer afirmar: não há lugar à verdade, mas sim à ideologia, com a consequente perda de liberdade e a desumanização.

O saber em si não é o que acontece primeiro, nem o fundamento último de tudo, pois o saber da possibilidade de saber, que o mundo existe e habitamos nele, que a linguagem me permite interagir no e com o mundo e falar a outros deste mundo, não se sabe nem se demonstra, antes crê-se. O que implica que, antes de qualquer operação de interação e conhecimento, o ser humano recebe uma linguagem, sobretudo da sua cultura e do seu contexto, que lhe oferece uma estrutura possibilitadora de tudo o demais. O ‘pensar’ absolutamente subjetivo, sem recurso a nada exterior, não é possível.
Pensar que se é livre, porque se rompe totalmente com a comunidade em que vivemos é, quase sempre, a maior das ditaduras.

Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil

Depois de os bispo italianos terem publicado, em 2004, um diretório sobre comunicação social, intitulado Comunicazione e Missione, a Igreja do Brasil publicou também o seu Diretório.
Este Documento brasileiro é composto por dez capítulos, que tratam dos diferentes conteúdos da comunicação, são eles: 1. Comunicação e Igreja no mundo em mudanças, 2. Teologia da Comunicação, 3. Comunicação e vivência da fé, 4. Ética e Comunicação, 5. O protagonismo dos leigos na comunicação evangelizadora, 6. A Igreja e mídia, 7. Igreja e mídias digitais, 8. Políticas de comunicação, 9. Educar para comunicação e 10. Comunicação na Igreja: a atuação da Pascom.
Em cada capítulo, além das reflexões apresentadas, são oferecidas pistas de ação para a formação, articulação, produção e espiritualidade da comunicação.
O Diretório é destinado aos responsáveis que atuam na comunicação eclesial e nas relações com a sociedade. O texto oferece conteúdos com referenciais comunicacionais, sociológicos, éticos, políticos, teológicos e pastorais.

Apresentamos aqui alguns números que são essenciais para a compreensão do diretório, porém é na riqueza do conjunto de todo seu conteúdo que compreendemos melhor o valor do documento. Todos os capítulos terminam com algumas pistas de ação prática o que facilita na aplicação do diretório nos diferentes âmbitos propostos. O trabalho terá como base quatro eixos: Formação, Articulação, Produção e Espiritualidade.
CAPÍTULO 1 -Comunicação e Igreja no mundo em mudanças: “A comunicação tem
como objetivo primordial criar comunhão, estabelecer vínculo de relações, promover o bem comum, o serviço e o diálogo na comunidade” (Nº. 13).
CAPÍTULO 2 -Teologia da Comunicação: “A Trindade è, por sua natureza, comunicadora. Pai, Filho e Espírito Santo são exemplos da unidade na diversidade. Eles colaboraram intimamente para a realização do projeto divino na história humana. Criando, salvando e santificando, o Pai, o Filho e o Espírito Santo redimem os seres humanos e glorificam para sempre a comunicação nas suas dimensões humana e divina” (Nº. 39).
CAPÍTULO 3 -Comunicação e vivência da fé: “A Igreja existe para Evangelizar e sua missão primordial consiste em comunicar a Boa Noticia do Reino, proclamado e realizado em Jesus Cristo. Isso implica, no mundo contemporâneo, uma pastoral em contínuo estado de missão, com novo ardor, novos métodos e novas expressões” (Nº. 64).
CAPÍTULO 4 -Ética e Comunicação: “A Ética na comunicação consiste em saber se os avanços tecnológicos estão contribuindo para um desenvolvimento humano autêntico e ajudando os indivíduos e os povos a corresponder à verdade de seu destino transcendente” (Nº. 104).
CAPÍTULO 5 -O protagonismo dos leigos na comunicação evangelizadora: “Os fiéis cristãos participam da missão sacerdotal de Cristo quando vivem as realidades do cotidiano, como a vida familiar e conjugal, o trabalho, o lazer e as ações comunicativas, em espírito de oração e comunhão com Cristo” (Nº. 121).
CAPÍTULO 6 -A Igreja e mídia: “É recomendável que a Igreja dialogue com os
responsáveis pela mídia e aprofunde aspectos culturais, sociais, políticos, econômicos e religiosos. Esse diálogo é indispensável para um entendimento dos modos de ação da mídia, em uma busca constante de discernimento. Além disso, a Igreja precisa sustentar e encorajar
aqueles que atuam nos meios de comunicação” (Nº. 144).
CAPÍTULO 7 Igreja e mídias digitais: “A Igreja tem convicção de que as mídias digitais
não substituem a vida em comunidade e litúrgica presencial, contudo pode completá-las, atraindo as pessoas para uma experiência mais integral da vida de fé e enriquecendo a vida
religiosa dos usuários” (Nº. 176).
CAPÍTULO 8 -Políticas de comunicação: “As políticas de comunicação, concebidas ao longo da história, pautam estratégias de ações concretas dos vários segmentos sociais. Segundo a Constituição Brasileira, cabe ao Estado estabelecer, através do Poder Executivo, um marco regulatório consistente, que defina os limites e as responsabilidades na atuação dos diversos agentes da comunicação, garantir a liberdade de expressão e de imprensa, assegurar as condições, políticas para que sejam exercidas a pluralidade e diversidade das
manifestações de pensamento” (Nº. 203).
CAPÍTULO 9 -Educar para comunicação: “A abertura para com o outro – base do processo comunicativo cristão – exige exercícios de uma prática pedagógica que tem como referência o próprio modo de Jesus se comunicar” (Nº. 215).

Dieta no ouvir

Considero que é indiscutível que vivemos imersos num mar de ruídos, sons e palavras que nos deixam insensíveis para escutar a Palavra que sussurra no quotidiano mais singelo. Este dado ganha mais densidade, quando se considera o facto de que a palavra de Deus se torna acessível à fé através do “sinal” de palavras e gestos humanos, do quotidiano. A fé reconhece o Verbo de Deus, acolhendo os gestos e as palavras com que Ele mesmo se nos apresenta. Portanto, o horizonte sacramental da revelação indica a modalidade histórico-salvífica com que o Verbo de Deus entra no tempo e no espaço de cada pessoa, tornando-Se interlocutor de cada um de nós, chamados a acolher na fé o seu dom (Cf. VD 56). E este dom é percebido, saboreado e acolhido no hoje de cada pessoa.
É por isso que se não é por falarem muito que são ouvidos (Cf. Mt 6, 7), também não é por ouvir muito que assumem a fé. Mas sim por ouvir bem (Cf. Sl 115), da Fonte segura e não dos ídolos.


Também aqui, «não nos é pedido que sejamos imaculados, mas que não cessemos de melhorar, vivamos o desejo profundo de progredir no caminho do Evangelho, e não deixemos cair os braços. (…) Todavia, se não se detém com sincera abertura a escutar esta Palavra, se não deixa que a mesma toque a sua vida, que o interpele, exorte, mobilize, se não dedica tempo para rezar com esta Palavra, então na realidade será um falso profeta, um embusteiro ou um charlatão vazio» (EG 151).
E passou ao lado da Fonte da água viva…